Há duas formas para reviver-se um mesmo passado. Uma é individual e memorialista, a outra, além de coletiva, é histórica. Em qualquer dos 2 casos, o indivíduo encontrará – acaso pretenda – sinais inequívocos de seu percurso existencial. A primeira pode ser bloqueada e atirada na lixeira do esquecimento por uma eventual capitulação de funções cerebrais nos períodos finais do curto tempo de vida dos indivíduos, uma perda que não será sentida por ninguém mais além de familiares próximos.
A segunda vai ser seguramente bloqueada pelas falsificações de registro produzidas pelo poder que sempre escolhe esconder a verdade histórica vivida por antepassados, exceto quanto a aspectos que ressaltem poder e meritocracia da respectiva classe dominante.
O dito acima pode e deve ser explicado com base na origem histórica dos atuais registros museógrafos existentes, especificamente os que se reportam ao mais remoto arquivo linquístico encontrado no Ocidente e Oriente Próximo. A primeira forma histórica registrada em linguagem escrita, móvel e manipulável (as outras foram registros atemporais de linguagem simbólica que remontam às cavernas pre-neoliticas), e que utilizava tijolinhos de barro como suporte, foi obra de escribas sumerianos, cujo interesse central não pode ter sido outro senão grafar – para efeitos de validação legal – a sucessão dinástica dentro da corte que havia estabelecido e regularizado uma profissão equivalente a dos cartórios atuais. Não estavam interessados em documentar a História de como se constituiu aquela primeira dinastia formalmente bem organizada, e sim como mantê-la no poder pelo máximo de tempo possível.
Um mesmo individuo pode viver seu mesmo passado nas duas formas sem prejuízo uma da outra, e até mesmo sem levar em conta o esforço conservador que difunde a história como um passado individual e nada coletivo, e somente o aceita resumido numa ocorrência familiar, como se a humanidade não fosse em si, apesar do recorrente destrambelho, uma grande família.
O conservantismo que insiste em se colocar contrário a um comunismo a esta altura transformado em um socialismo de produção material e obediente às regras do comercio vigentes, se assemelha ao recorrente absurdo terrorista de quem cria fantasmas para assustar moradores que se deseja expulsos de casa, como bem atesta o poder do capital nos centros em ruínas de praticamente todas as cidades mais antigas, como Recife, por ex., ou num caso bem especificamente localizado, como o dos poucos moradores de casas que ainda insistem em nelas permanecer no bairro de Tambaú, João Pessoa (PB); fechados em suas casas e assustados com os fantasmas reais dos mortos-vivos da crackolândia e outras drogas, que vagueiam pela noite batendo em suas portas.
A luta furiosa pelo domínio do passado às vezes resulta em contra-ataques dos pobres, subitamente tomados pela consciência da importância de tal domínio, como foi o caso da quebra de estátuas de bandeirantes e outros criminosos, opressores e dizimadores de pobres e indígenas, um caso raro de reação popular acontecido em praças públicas da cidade de São Paulo, e que se diferencia de outros ataques a monumentos por orientação religiosa (ataque a imagem de Iemanjá, em João Pessoa, por evangélicos) ou puro vandalismo ou pichação normalmente praticados por jovens desempregados. No caso das estátuas de bandeirantes temos manifesta uma deliberada consciência da necessidade de revisar um passado que torna heróis aqueles que na verdade foram opressores de pobres, matadores de indígenas e traficantes de escravos.
Educação em massa para desenvolvimento de capacidade intelectiva ou raciocínio crítico, não esteve jamais na mente de políticos conservadores, representantes de elites sociais retrógradas, e, muitíssimo pelo contrário, manter o povo trabalhador submerso em alienação politica passa obrigatoriamente por uma extensa e descabida falsificação do passado, de forma que livros de História e Geografia permanecem imunes aos revisionismos que eventualmente se dão longe de suas páginas. Não bastasse, o horror às verdades vem seguidamente tentando excluir estas 2 matérias básicas para o conhecimento de causas, do currículo escolar da população.
O ponto crucial dessa trajetória de mentiras sustentadas pelo ocidente coletivo através dos canais de comunicação como mídia corporativa, escolas, televisão, universidades, etc., passa hoje pelo enorme esforço feito pelo poder para acreditar em sua capacidade de convencimento através do uso disseminado dos celulares individuais.
Essas classes dominantes esforçam-se na criação dentro das redes sociais de espaços de diversão cujo objetivo principal é aquele de imbecilizar as massas, quando temos um bom exemplo disso no Reels, um segmento do Instagram, muito embora abundem em canais de youtube programas de elucidação política e sócio-econômica, a exemplo do canal mantido pelo economista Eduardo Moreira , cujas observações usuais sobre operações bancárias, por ex., trazem à lume a vastidão desmedida da ganância sobre o bolso dos desprevenidos de classes médias e trabalhadores, uma prática antiquíssima e nunca difundida por nenhum meio de comunicação popular nos últimos 100 anos.
Sem falar que não vai ser possível aos bilionários donos das redes sociais manter, indefinidamente, a ignorância da massa sobre a existência de sistemas produtivos que não cobram juros sobre empréstimos bancários aos que planejam abrir empresas. Esse futuro não sorri para os bancos, que tudo farão para manter o mundo em guerra constante, como a que o mundo hoje vive, e como se não bastasse, ameaçado de uma conflagração nuclear.