Água pelo caminho, um caminho de águas, uma caminhada em busca das águas. Salgada, doce, fria, quente, para ser bebida, servida em ofertas. Líquida desce pelas encostas, cria estradas, salta por entre pedras, molda quadros, umedece o mundo, produz luz ao toque solar. Sensível e forte, mata as sedes humanas, tanto as corpóreas quanto as espirituais.
Caminhos até a água. Pressionar pés, emprumar corpos, descer, subir, pausear, sorrir, feito brincadeira maior para os adultos. O caminho de vários matos, árvores, sombras, sabores. A casa das vogais, onde há amora. E tem ainda a moradia da pitanga, das flores, de casinhas esparsas, de declives, bonito de se ver.
O caminhar pela água. Solo de areia, piso de rocha, escorrego líquido. E segue-se em equilíbrio, balanço de brincadeiras, risos em cachoeiras como a Véu de Noiva, a Barra Azul, a Pedra Redonda.... O corpo abraça o ambiente, os amigos, o repouso das águas, o esforço do caminho e mesmo os obstáculos da caminhada.
Água é se banhar. É sentir a força que ultrapassa o corpo, quer levar tudo consigo, pois a natureza possuidora de todos os seres. Da corrente que arrasta o pé equilibrante no chão submerso de pedras, no jorro da torrente que assimetricamente é desenhado e que segue o curso encosta abaixo.
Sempre as águas. Elas surgem como trilha sonora do vale em agitadas espumas brancas, sussurros pelo meio da mata, transparentes leitos arenosos, por vezes feito um musgo em tom verde, telas que tateiam naturalmente pelas passagens estreitas e pequenas estradas inclinadas. Cantoria da boca do pássaro, correria dos pequenos mamíferos escondidos, entucas da sobrevivência animal em pleno paraíso.
Água e Sol molham os corpos de sonoridade ambientada da natureza, onde a pequena estrada é cachoeira de gente e a queda d´água é caminho natural. O homem persegue o caminho das águas. Com a sede na boca, a busca é cega, mas quando a secura é por novos caminhos abre os olhos, amplifica a visão dos mundos.
E todos são marujos sem barco, embarcados na vida, viajantes das próprias rotas entrelaçadas pelas passagens do plano atual. O vento assobia pela rota, assopra a vela que alumia os encontros de todos os espíritos leves.
Trilhar é caminhar junto com olhos, cabelos, mãos e pernas, se conectar e se reencontrar pelos espaços e retornar todas as vezes pelas lembranças.
Água, caminho, encontro da Lua e do Sol em plena tarde, sem eclipsar o belo. Depois da estadia em Escada, um novo carimbo a se juntar à Pedra do Altar, à foz do Rio Miriri, às entranhas entre João Pessoa e Santa Rita, mais um lugar para se deliciar no estado vizinho, Bonito.