Este texto é dedicado ao amigo artista plástico paraibano FLÁVIO TAVARES (1950). O qual me apresentou seu quadro O EU, que está fixad...

Arte e Sociedade

arte pintura paraiba
Este texto é dedicado ao amigo artista plástico paraibano FLÁVIO TAVARES (1950). O qual me apresentou seu quadro O EU, que está fixado em Academia Paraibana de Letras do estado da Paraíba.

A obra de arte, em geral, cria uma conexão estética entre o artista e o espectador. Essa correlação estimula a empatia entre eles, despertando o senso crítico para reconstruir a dignidade humana e a apreciação da beleza, seja de forma objetiva ou subjetiva. A arte tem o poder suavizar as tensões presentes nos relacionamentos e de expor o mal-estar social. A transferência da arte surge quando o artista internaliza, em sua própria criação artística, as impressões de si mesmo e do mundo, revelando aspectos não explorados de seus sentimentos, pensamentos e ações. Por exemplo, Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884 - 1914), poeta paraibano, questionava, por meio de seu processo criativo, valores morais, religiosos e metafísicos, a partir de sua própria autoconsciência.

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"O Eu"Flávio Tavares
Durante sua vida, Augusto dos Anjos transformou em poesia suas angústias existenciais, expressando assim tanto suas falhas existenciais quanto psíquicas de forma dolorosa. Seus poemas ainda têm um impacto poderoso no simbolismo, no existencialismo filosófico, na sociologia da arte, na estética contemporânea, na mudança do pós-estruturalismo, nas psicanálises e em outras ciências que abordam as angústias desta realidade contemporânea.

A personalidade das pessoas é transmitida para a obra de arte, seja de forma objetiva ou subjetiva. Isso influencia as formas de expor as suas realidades externas e internas. Para o espectador, é permitido compreender
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"Menihaku" Alberto Lacet
o comportamento humano e o espaço social no qual estão inseridos. Com esse entendimento, é frequentemente possível reconstruir afetos. Junto a eles, surge o desafio da sociedade de priorizar a dignidade humana e cultivar a compaixão diante das dores psíquicas e da miséria humana encontrada em cidadãos abandonados por suas famílias, instituições ou pelo Estado.

Quanto aos artistas, em sua maioria, suas criações acessam suas próprias identidades e geram novas formas de compreender suas existências. São autodescobertas que permitem conhecer a condição humana. Elas suavizam o grito social e estimulam o gosto estético no dia a dia, construindo um sentido de beleza à vida. Suas obras de arte expandem a diversidade das culturas locais, regionais e o próprio pan-nacionalismo para o universal.

O objeto de arte se torna independente das características da existência do seu criador ao ser inserida na sociedade. O artista, ao contemplar o resultado de sua criação, se redescobre em sua releitura. Isso permite a expressão de si mesmo e uma conexão mais sensível com a convivência humana. Em algum momento, as angústias do artista são transformadas em arte, sendo as dores do mundo convertidas em patrimônio da própria cultura e da humanidade. Esse processo confere um sentido estético à vida e é interpretado como a criação de compaixão através da arte.
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"Maternidade"Tomás Santa Rosa
A obra de arte pertence à força dinâmica das interpretações tanto dos espectadores quanto dos artistas.

A obra de arte transmite a dignidade da dor do artista ao espectador, em geral, por meio da compaixão. Os artistas exercem um poder transformador na sociedade e no cidadão, ou de maneira espontânea ou intencional. Eles auxiliam na exploração de novos significados do ser humano e na compreensão do espaço social. A obra de arte ajuda ao enfrentamento da dor indizível existente no interior das pessoas. Para tanto, é preciso considerar que cada indivíduo é único e livre para utilizá-la de acordo com sua própria identidade, isto é, o próprio eu. A sociedade tem autonomia para tornar uma obra de arte seu patrimônio material e/ou imaterial. Dessa maneira, a arte e a sociedade se unem.

Concluo com o poema Versos Íntimos do poeta Augusto dos Anjos:

Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de sua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!


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