Todos precisávamos dar um sentido maior à vida. Nada justificava tanta passividade, tanto apego a uma falsa ideia de que aquilo era n...

Os sentidos da vida

solidao angustia
Todos precisávamos dar um sentido maior à vida. Nada justificava tanta passividade, tanto apego a uma falsa ideia de que aquilo era natural e viria permanecer para sempre. Mas jamais imaginávamo-nos que nossos objetivos também eram ingênuos, frágeis e facilmente esmagados por forças que nem supúnhamos existir.

Forças essas que em pouco tempo substituiriam nossos projetos colocando no lugar um mundo indiferente hostil e desumano que se aperfeiçoava como um predador que crescia em permanente e insaciável mutação.
Pensávamos que éramos velhos aos 30 anos. Não, não éramos, éramos simplesmente tolos e desinformados como quem vai a festinhas de debutantes sem perceber o ridículo de procurar ser parte da aristocracia em um país como o nosso, no qual ela nunca existiu.

E nada mudou. Pelo contrário, se mudou foi para pior. Somou-se a banalidade do pseudo sonho aristocrático à brutal insensibilidade da sociedade de classes corrompendo com perfeição, corações e mentes de forma irreversível. Levantei-me, e ao passar diante de um espelho parei. Procurei no meu rosto minha velhice de quando tinha 30 anos. Nada encontrei, nem a velhice precoce nem a do espelho, esta real, atual e incontestável, que refletia apenas um pálido aceno que chamava atenção sobre a minha insignificância e reafirmava com absoluta clareza de que as reações químicas do meu corpo agonizavam e haviam perdido a última batalha, pontificando o final dos tempos tal qual o conhecemos.


"Mas..."

Vai ter que dar certo e continuarei tateando meus pensamentos porque Deus ou o Amor, como queiram identificá-lo é uma necessidade psicológica e não o avesso dela porque nada ou ninguém determinou que assim fosse. Deus não faria uma experiência tão dolorosa,
nem nos ofertaria o sofrimento para ser degustado como um teste de fidelidade.

Deus ou Amor, insisto, ofereceria a paz, a harmonia, os bons pensamentos e as boas intenções que se consolidassem. Ele não permitiria o desespero, a fadiga, a falta de saída, e a borda do precipício. Para quê? Senão, que objetivo haveria nestes milhares de anos? Que sentido na vida haveria na tristeza, na angústia, nas perdas, nas doenças incuráveis, nas soluções paliativas, nos comportamentos mórbidos, nas noites em vigília, nas ondas de ódio, nas ausências de solução, nas aceitações dos fardos, nas promessas em vão, nas perdas de tempo, nas obrigações sem sabores, nas mãos de açoites, nas indiferenças cruéis, nos medos incontornáveis, nos deuses de barro, na ausência da arte e na morte do amor?

Há de haver esperança para a vida, aguardada nas grandes belezas que apontam para as grandes conquistas com suas grandes transformações. Em não sendo assim, Ele abdicaria do seu projeto de puro amor ou renunciaria a Sua própria existência, seja ela de propósitos, ou de que matéria que tenha sido imaginado por bilhões de pessoas neste planeta para dar um sentido às suas necessidades ou para atenuar suas imperfeições.

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