De quando em quando volto a render minhas justas homenagens ao editorial, o qual, sobretudo agora, se impõe como fonte a mais responsável na formação da opinião bem informada, tornando-se, depois da página de vitrine, minha primeira leitura.
Tomei esse caminho na própria A União, muito embora o editorial, escrito pelo diretor ou, em suas ausências, por veteranos da qualificação de Wilson Madruga ou Sá Leitão Filho, fosse costumeiramente a palavra do governo ou o que o governo (então de José Américo) julgasse mais interessante.
Tomei esse caminho na própria A União, muito embora o editorial, escrito pelo diretor ou, em suas ausências, por veteranos da qualificação de Wilson Madruga ou Sá Leitão Filho, fosse costumeiramente a palavra do governo ou o que o governo (então de José Américo) julgasse mais interessante.
A União, em seu primeiro número, começou pelo editorial. Antepôs-se a todas as matérias do dia e marcou tradição com seus editorialistas, a começar por Gama e Melo, jurista, intelectual e homem público da admiração de um vizinho que iria surpreender algum tempo depois, o major Floriano Peixoto, quando aqui serviu em missão especial e de cadeiras na calçada da General Osório, numa relação que culminou em convite para o doutor Gama ocupar o Ministério da Justiça após a queda de Deodoro. O paraibano agradeceu por modéstia mas, vendo bem a sua biografia, não é difícil de ter sido por pudor democrático.
Editorial de prestígio regional era o de Esmaragdo Marroquim no Jornal do Comércio do Recife, isto nos anos 1950. Um outro jornal da época que primava pelo artigo de fundo era A Imprensa, dirigida por padre Odilon Pedrosa. Chegou a incomodar o governo, batendo em cima da remoção política de professoras. Isto no governo de quem? Do grande José Américo. O padre foi confinado em Pirpirituba, recém-saída de vila, morrendo aposentado em Sapé e nos deixando quatro livros do bom escrever e do melhor pensar. Foi esse padre ilustre que me ensinou a ler jornal.
Não é de graça, portanto, esta minha atenção diária ao editorial. Nos idos de 1958, o editorial deste jornal chegou a influir de certo modo no posicionamento do próprio governador, com aliados da facção mais reacionária mas, até certo ponto, deixando correr frouxo no jornal a ação das Ligas Camponesas, tal como ocorria no vizinho governo de Arraes. Em Cabra Marcado para Morrer o assassinato de João Pedro é toda a 1ª página de A União. A redação dirigida por Hélio Zenaide e composta de repórteres como Severino Ramos parecia atestar de fato que o jornal era pago pelo povo. O editorial, verdadeiras obras-primas no gênero, era lavrado por Malaquias Batista Filho. Nos jornais concorrentes a raiva à palavra camponês fazia trocá-la por rurícola.
Motivou-me voltar ao assunto o editorial dessa quinta-feira, 21, dedicado à palavra do Brasil na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas: “... Lula botou o dedo nas feridas do mundo, ao denunciar, por exemplo, a corrosão do princípio da igualdade soberana entre as nações – paridade que, diga-se de passagem, nunca houve em momento algum da história – os despropósitos do neoliberalismo e os efeitos deletérios das desigualdades sociais, dos preconceitos, dos conflitos armados e da degradação progressiva do meio ambiente.”