Sendo hoje o dia mundial do coração, na qualidade de cardiologista, resolvi brindar os caros leitores, do Ambiente de Leitura Carlos Ro...

O coração como símbolo

Sendo hoje o dia mundial do coração, na qualidade de cardiologista, resolvi brindar os caros leitores, do Ambiente de Leitura Carlos Romero, com a temática que se segue:

Com base em dados fisiológicos, o comando da vida física, e a modulação do comportamento humano, estão centralizados no cérebro, mas é o coração que simboliza o sofrimento humano, o amor, e o ódio, a alegria e a tristeza, a coragem, e o medo. Órgão de maior simbolismo do corpo humano, o coração carrega em si, diferentes crenças, e valores construídos, pelo senso comum, através de milênios. A história nos revela o coração-símbolo, com vários significados: coragem, vontade, desejo, emoções, vida e amor.

William HarveyCC0
Mesmo para povos bem primitivos, o coração foi o órgão mais expresso como possuidor de força vital. Na própria Bíblia, livro mais lido da Humanidade, a palavra coração aparece 873 vezes. O Provérbio 4:23 diz: Acima de tudo, guarda o teu coração, pois ele é fonte de vida. Para Hipócrates, o coração é considerado a sede da alma. A raiva contrai o coração e aumenta o calor, levando os fluidos para a cabeça, enquanto uma mente tranquila — a eutimia — expande o coração. Já em 1678, o famoso médico inglês William Harvey escreveu que o coração é uma divindade familiar que nutre, acalenta e dá vida a todo o corpo, constituindo a base da vida, a fonte de todos os atos.

Na mitologia, encontra-se o jovem Dionísio que, após ter sido devorado pelos Titãs, retorna à vida graças a um raio de Zeus em seu coração. Embora haja uma quantidade enorme de relatos do coração, como fonte de vida, barbáries foram cometidas justamente pela crença simbólica de sua força. O exemplo mais nefasto é aquele em que o marido, como castigo, fez sua esposa comer o coração do amante. Na tradição mística de Jean-Pierre Camus e de São Francisco de Sales, situa-se o coração simbólico como responsável pela interação entre o ser humano e o divino, o infinito e o finito, entre milagre o da salvação e o mundo, sendo órgão central do corpo de Cristo.
Autor Português, séc. 19
Portanto, vemos o coração presente em vários domínios: biológico, mitológico, religioso, político e filosófico.

Da ficção à poesia, a mágica que envolve parece perdurar até atualmente. Dentro desse contexto, os cardiologistas recebem, nos serviços, pacientes com uma bagagem histórica e cultural própria e singular. Considerando todo o simbolismo relacionado com o coração, a atenção do clínico contemporâneo deve ultrapassar as fronteiras absolutamente técnicas, com um olhar o mais amplo possível, não ficando limitado apenas às interpretações de sofisticados exames complementares.

O retorno do médico de família, a formação de clínicos gerais, e o movimento psicossomático, vêm corroborar com o sentimento, de que algo necessita ser feito( e de forma urgente) no sentido de tratar o paciente enquanto ser humano, e não apenas, tratar o seu coração, ou seja, a Medicina técnica, não pode sufocar uma relação entre seres vivos. Além de tudo, não se pode esquecer que existe um coração emocional, um coração psicológico, e um coração espiritual, que também requer atenção.

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