A expressão em latim memento mori costumava ser pronunciada em Roma Antiga, onde eram realizados grandiosos desfiles em homenagem a algum general recém-vitorioso no campo de batalha. A cerimônia, esteticamente impressionante, tinha o objetivo de tornar-se inesquecível, devido ao impacto dos resultados heróicos, e fazia com que o comandante militar se sentisse como um deus. Havia sempre um servo cuja única função era seguir atrás do corpo do general vencedor e repetir: “Respice post te. Hominem te esse memento. Memento Mori!”, frase que pode ser traduzida como:
"Olhe para trás. Lembre-se que você é mortal. Lembre-se que irá morrer!".
A frase despertava no herói a consciência de sua própria mortalidade, forçando-o a lembrar de que a fama e a glória são temporárias.
Memento mori refere-se à mortalidade e encoraja a pessoa a cultivar a humildade para valorizar a existência humana. Isso inclui satisfazer desejos e cumprir deveres com a aplicação das virtudes do otimismo, da justiça, persistência, compaixão, empatia, honestidade, disciplina, coragem, do perdão, aproveitando ao máximo o tempo de vida. Nesse conceito, também é importante estar preparado para acolher o momento da morte com dignidade, isto é, de pertencer a si mesmo no próprio caráter. Na finitude, a impermanência material apresenta a certeza de que tudo é transitório e que, na brevidade do viver, é essencial valorizar a humildade.
Os estoicos, embora não tenham usado a expressão memento mori, refletiram sobre a maneira simples e virtuosa de viver. Alguns de seus ensinamentos eram: preservar a autodisciplina; controlar os próprios pensamentos e ações; aproveitar o momento presente e não se preocupar com o passado nem com o futuro; conviver harmoniosamente com o sofrimento e com a adversidade; vivenciar a resiliência; aprender com os erros.
O filósofo e advogado espanhol Lúcio Aneu Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) escolheu a serenidade para dar sentido à própria existência. Ao se tornar rico de maneira honesta, ele renunciou aos prazeres da riqueza material em troca de uma vida disciplinada na simplicidade. Uma de suas teses propõe que o destino é uma realidade e que é possível aceitá-lo ou rejeitá-lo; ao aceitá-lo de livre vontade, a natureza humana usufrui da liberdade. É necessário confrontar os conflitos com prudência e não se deve temer as tragédias nem as cruéis fatalidades da vida. Assim, a felicidade é encontrada na moderação da sensibilidade em relação aos próprios desejos diante das imprevisibilidades das emoções e da perda da razão.
Em seu livro Sobre a brevidade da vida (49 d.C.), o pensador espanhol fundamenta a ideia de que a natureza proporciona a cada pessoa o tempo necessário para realizar o que é realmente importante na vida, exigindo que cada ser humano organize o seu tempo de maneira eficiente. Sêneca afirma que "a vida, se você souber aproveitá-la, é longa". A obra ensina a diferenciar o que pode e o que não pode ser controlado, priorizando-se o necessário em busca da harmonização da qualidade de vida. Em um de seus pensamentos, Sêneca afirma: "Não é pobre aquele que tem pouco, mas sim aquele que deseja mais. Qual é o limite apropriado para a riqueza? Primeiro, ter o que é necessário; segundo, é ter o suficiente". Em outra reflexão, ele diz:
"Não deixemos nada para depois. Acertemos as contas com a vida dia após dia".
A vida feliz surge de atitudes virtuosas, incluindo a vivência da serenidade e a busca pela paz. A tese foi fundamentada pelo filósofo estoico Epicteto (55 d.C. - 135 d.C.). Os Discursos de Epicteto (108 d.C.) e O Manual de Epicteto (125 d.C.) têm exercido influência sobre a ética e sobre os valores morais por mais de dois mil anos. Essas obras foram compiladas por Lúcio Flávio Arriano Xenofonte (92 d.C. - 175 d.C.), um aluno de Epicteto que nasceu em Nicomédia, na região da Turquia. Alguns dos ensinamentos são:
"A vida se torna muito mais fácil quando se deixa de tentar controlar tudo ao redor. É necessário compreender que existem aspectos da própria vida que se pode controlar e outros que não."
"Deve-se ter em mente a fragilidade e a condição natural das coisas. Os objetos, os bens sempre chegam ao fim, o mesmo acontece com os seres humanos. Diante da vida, cada momento é único e diante da morte, é preciso aceitar a condição natural das coisas."
"O inesperado pode acontecer. Não se deve criar expectativas. É necessário deixar surpreender-se pelas boas surpresas e não se deve desesperar com as ruins."
"Não se possui nada nesta vida, tudo o que é considerado como próprio patrimônio é apenas um empréstimo temporário, que pode ser devolvido no final da vida ou antes. Não se perder o que não possui, nem possui nada para perder."
"Deve-se lembrar que nem sempre aqueles com mais poder e dinheiro são mais felizes, eles nunca alcançam a verdadeira felicidade."
“Deve-se limitar às coisas que se pode organizar bem. A liberdade e a felicidade estão dentro de si mesmo, não estão nos títulos e posses.”
“Em cada projeto que se pretende empreender, deve-se reconhecer que cada aspiração envolve esforço e tempo. O tempo é curto, deve-se concentrar no que escolheu para si mesmo”.
O imperador romano Marco Aurélio (121 d.C. - 180 d.C.), filósofo estoico, despertava nas pessoas o dever de trabalhar para o bem comum. Ele acreditava que o indivíduo deveria aceitar o que não pode controlar, como eventos naturais ou as ações dos outros, e priorizar em controlar as próprias ações e pensamentos. Em seu livro Meditações (escrito entre os anos 170 d.C. e 180 d.C.), destaca:
"Não devemos agir como se fôssemos viver dez mil anos. A morte está sempre próxima. Enquanto estamos vivos, devemos ser bons."
“O que fazemos agora ecoa na eternidade”
“A felicidade de sua vida depende da qualidade de seus pensamentos.”
“Tudo o que ouvimos é uma opinião, não um fato. Tudo o que vemos é uma perspectiva, não a verdade.”
“Não perca tempo discutindo sobre o que um bom homem deve ser. Seja.”
“Não é a morte que um homem deve temer, mas ele deve temer nunca começar a viver.”
“O objetivo da vida não é estar do lado da maioria, mas escapar de se encontrar nas fileiras dos loucos”.
Os filósofos citados acreditavam que quando a morte é lembrada, pode-se valorizar melhor a vida e aprender a viver de forma mais feliz. Essa é a função da expressão memento mori, que ajuda a pessoa a praticar a humildade e a bondade.