Sim, foi ela, a professora Neide Medeiros que fez acender esta velha chama que eu mantinha a salvo de minhas vontades. Eu havia prometi...

Foi Neide Medeiros

Sim, foi ela, a professora Neide Medeiros que fez acender esta velha chama que eu mantinha a salvo de minhas vontades. Eu havia prometido não tocar mais no assunto, mas não resisti à sutil provocação da querida e mais recente imortal de nossas letras. Explico.

Terça-feira, 5 do corrente mês, manhãzinha ainda, Fred me aparece à hora do meu desjejum trazendo à boca este poderoso rotativo embrulhado num saco plástico transparente. Sim, esse meu camarada de quatro patas, como costumeiramente faz, trouxe-me o “A União” do dia.
Fui logo ao caderno de cultura, leitor habitual que sou daquelas páginas. Na de número 11, onde eu também apareço às quartas para transformar em rabiscos minhas idiossincrasias e alguns lamentos (almas benevolentes chamam essas garatujas de crônicas), lá estava minha querida confreira assinando sua coluna “Baú de Livros”. E qual o título da matéria? ”O sacy”, com ípsilon pois parece-me que era essa a ortografia nos tempos em que Lobato publicou seu livro que tinha como tema esse nosso duende genuinamente brasileiro.

Até aí, nada que fizesse cócegas em minhas destemperanças. Mas, ao final do texto veio a dedicatória: “Este texto vai para Luiz Augusto, admirador de Lobato, ele acredita piamente na existência de Sacis em terras paulista e na Paraíba”. Tentei resistir ao carinhoso agravo, mas o “piamente” colocado no oferecimento, veio como uma espetada de faca pontuda em minhas vísceras. Resolvi reagir.

Coisa de uns cinco anos para trás, registrei nesta tradicional gazeta, meu encontro com esses bichinhos-gente ali pelo brejo paraibano. Inicialmente fui alvo de impropérios e recebi uma coleção de adjetivos da pior qualidade dos leitores deste diário. Mas fazer o quê? Não ia deixar de tornar pública tão inusitada descoberta. Mas, qual? Sim, havia sacis aqui pelas bandas da Paraíba.
Filatelia Brasil, 1974
E não era um grupo tão pequenino assim. Creio que uns quinze. A descoberta aconteceu quando eu, Auricélio, Manoela, voltávamos, coisa de dez e meia da noite, de nossas aulas em Guarabira. Numa subida da estrada, antes de Mari, noite de lua cheia, Auricélio pediu para pararmos o carro. Precisava fazer xixi.

Fomos, eu e Manoela, chamados para ver o que acontecia (depois que ele se aliviou). Eles estavam ali. Timidamente no começo e quando viram que não oferecíamos perigo, foram se achegando. Pouquinho depois, já amistosos e comunicavam-se por gestos e assobios, mas entendiam o que falávamos. Percebemos que estavam necessitados, pois assim demonstrou um sacizão que parecia o alfa, com um gorrinho na cabeça feito com o pano de uma bandeira velha do MST. Prometemos voltar.

Na semana seguinte paramos na mesma hora e local. Loguinho eles apareceram. Que festa fizeram quando viram o que trouxemos: rapadura, pé-de-moleque, amendoim (assado e cozinhado), espiga cozida de milho verde, pipoca, carne de charque cozida, farinha, queijo de coalho, uma meiota de cachaça, muitos apitos e chocalhos porque saci gosta muito desses brinquedos.

Lá no interior de São Paulo, em Botucatu, há (pelo menos, havia) uma criação dessas adoráveis criaturas. Prefiro-os soltos na natureza. Vivem pouco, de 20 a 25 anos, mesmo que sejam, os Mirins, os Pererês e o os Açus. Esses últimos parecem-me extintos, os Mirins são endêmicos das Serras Catarinenses e nos pampas gaúchos. Os Pererês são comuns na Mantiqueira e no Noroeste de São Paulo. Fiquei surpreso por vê-los aqui.

Essa relação durou bem uns dois para três anos. Levei até lá para vê-los, Zé Edmilson Rodrigues, Zé Pequeno, Thomas Bruno. Ficaram extasiados. Até hoje me agradecem pela oportunidade que poucas pessoas têm;
Conhecer e ver de perto um saci, quanto mais um bando como aquele. São portanto, minhas testemunhas (Zé Edmilson, Pequeno e Thomas, não os sacis) e são capazes de prestar testemunhos mesmo que sejam nos cartórios.

Tempos depois sumiram dali. Thomas havia se encantado com um filhotinho, que batizamos de Júnior. Queria levar o bichinho para criar em casa? Pode? Saci é peralta, iria fazer cocô no sofá, quebrar louça, rasgar cortina, bagunçar a geladeira além do que sem licença do IBAMA não sei como poderia ser porque saci não é bicho, mas também não é gente.

Estudei muito sobre esses traquinas. Morrem se tentarmos tirar retrato deles. Segundo, o escritor José Carlos Pontes em seu livro “O criador de sacis” [2003 – Secretaria Municipal de Cultura de SJ do Rio Preto], o saci também morre se for roubado do coração de uma criança. Não sei, meus queridos e queridas, se entenderam. Talvez em outra oportunidade eu retome essa conversa.

Poderia dizer muito sobre eles. Um pesquisador paraibano, José Ronald de Farias, jura de pé junto que viu um bando entre Monteiro e Cabaceiras. Acredito ser o mesmo grupo que conheci. Zé Ronald não mente. Quem viu um saci e o tem no coração é incapaz de mentir. O que é o meu caso.

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  1. Danou-se! Ah se Sacy fosse! Vivificante e fértil revela-se a imaginação do ficção “realista”.do romancista/cronista do Luiz. Se ele diz,,, Atração turística, melhor quem a dos etês de Varginha…

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