As desativadas estações ferroviárias do interior. Cachos de matos assanhados, flores tímidas, montanhas feitas pelas formigas entre as paralelas dos trilhos calados. Pela plataforma, sopram ventos indefinidos quais fantasmas de antigos passageiros que arrepiam as horas do sininho que comandava a partida eletrizante dos vagões. A correria dos que chegavam apressados carregando suas emoções nas maletas e embrulhos de jornal. A saudade ainda aguarda que os trens voltem a animar os carregadores com seus chapéus cocos, os chapeados.
Há, realmente, uma desolação como se houvesse silenciado o último apito da locomotiva. Aqueles lagartos enormes, de vagões pintados de cores cintilantes, a linda curva que os viajantes viam, através das janelas, a máquina comandando a marcha entre serras, fuçando por entre arvoredos cortados para dar passagem aos embalados trens. O apito penoso avisando a partida ou a chegada, nessa ambigüidade de alegria e tristeza, dependendo de quem se despede ou de quem espera.
Alguns utilizam o resto das estações cada dia mais decepado pela ação das rajadas de chuvas, sol, infiltrações, ressecamentos das paredes, rachões, dia a dia, mais aprofundados. Nos cantos menos tomados pelo matagal que sufoca os trilhos enferrujados se batem peladas dominicais. Os remanescentes fumam seus borós, entre carteados, relembrando alvoroços dos comboios saindo ou chegando.
Estações Ferroviárias de Sousa, Soledade e Guarabira (PB) @Historiador Paraibano
A amurada de proteção toda desenhada pelo lodo em riscos incompreensíveis, misturados com símbolos de um erotismo ingênuo. À noite, nas desativadas estações ferroviárias do interior, a população aumenta, pois ronda, no romântico escurinho, a fada da gravidez. Há sempre os grilos para animarem a desolação noturna dos prédios quase centenários que parecem esconder-se de acabrunhamento na pouca luminosidade mortiça das lâmpadas ainda mantidas.
As arquejantes ou mortas estações ferroviárias do interior nos trazem a fuga das marias-fumaças e locomotivas movidas a combustíveis, seus recolhimentos fatais ao esquecimento, condenadas a silenciarem os apitos musicais que acordavam ou triscavam faíscas nos passageiros ou gente circulando nas pequenas plataformas. Lamentável entroncamento sem retorno. Tudo mudo, enguiçado, sem a musicalidade puxada dos trilhos gemedores. A desolação adormeceu de nos bancos das saletas vazias. Trilhas de dormentes saudades..