Este texto é dedicado à minha filha arquiteta e urbanista Ingrid Maux Dias. Charles-Edouard Jeanneret-Gris (1887 – 1965), conheci...

Cidade como síntese da Arte

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Este texto é dedicado à minha filha arquiteta e urbanista Ingrid Maux Dias.

Charles-Edouard Jeanneret-Gris (1887 – 1965), conhecido por Le Corbusier, foi arquiteto, urbanista, escultor e pintor suíço. Em sua Carta de Atenas, publicada em 1933, no tópico 92, ele afirma:

“A arquitetura preside os destinos da cidade. Ela ordena a estrutura da moradia, célula essencial do tecido urbano, cuja salubridade, alegria, harmonia são subordinadas às suas decisões. Ela reúne as moradias em unidades habitacionais
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Le Corbusier ▪ Fonte: ZDen/Ru
cujo êxito dependerá da justeza de seus cálculos. Ela reserva de antemão os espaços livres em melo aos quais se erguerão os volumes edificados em proporções harmoniosas. Ela organiza os prolongamentos da moradia, os locais de trabalho, as áreas consagradas ao entretenimento. Ela estabelece a rede de circulação que colocará em contato as diversas zonas. A arquitetura é responsável pelo bem-estar e pela beleza da cidade. É ela que se encarrega de sua criação ou sua melhoria, e é ela que está incumbida da escolha e da distribuição dos diferentes elementos cuja proporção feliz constituirá uma obra harmoniosa e duradoura. A arquitetura é a chave de tudo”. (LE CORBUSIER, 1993, p. 71).

Em 1933, Le Corbusier apresentou o conceito da Ville Radieuse (Cidade Radiante), que propõe diretrizes de organização urbana com o intuito de promover uma convivência social saudável. Essas orientações incluem uma cidade arborizada, com amplo espaço; edifícios altos, cujos térreos seriam abertos por colunas, permitindo que pedestres desfrutem do ambiente livremente, também proporcionando vistas das áreas verdes; construção de edifícios em pontos de referência para facilitar a localização; e unidades de vizinhança com infraestrutura básica de equipamentos comunitários.
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Fonte: eBay
A Cidade Radiante busca satisfazer quatro necessidades: fornecer moradias saudáveis aos habitantes; tornar os locais de trabalho mais higiênicos; planejar o bom uso das horas livres e garantir uma rede comercial eficiente. O objetivo desse projeto é estetizar a vida dos cidadãos, quer dizer, torná-la bela.

Os princípios propostos acima, por Le Corbusier, exerceram uma influência significativa no planejamento urbano moderno e contemporâneo. Eles harmonizam o desenvolvimento de novos conjuntos habitacionais de alta densidade populacional. A cidade projetada por ele inclui meios de mobilidade eficientes, com destaque para uma plataforma de transporte centralizada no distrito cívico. Nesta região central, existe um amplo sistema subterrâneo de trens que tem de transportar os cidadãos para os bairros residenciais. O arquiteto e urbanista ressaltou a importância de criar uma quantidade significativa de espaços verdes, a fim de proporcionar uma maior incidência de luz solar. No que diz respeito ao zoneamento, ele organiza a cidade em áreas comerciais, de lazer e residenciais. As atividades de negócios são concentradas no centro, enquanto os bairros habitacionais são ocupados por edifícios de apartamentos pré-fabricados, com uma altura projetada de aproximadamente cinquenta metros. Destaca-se que a única edificação residencial é projetada para acomodar 2.700 habitantes, funcionando como vila vertical. Restaurantes e lavanderias são instaladas no piso térreo e o jardim de infância e a piscina na cobertura. Entre os blocos deve existir parques, proporcionando aos residentes um máximo de luz natural, um mínimo de ruído e aparelhos de lazer à porta.

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Fonte: Fond. Le Corbusier
Le Corbusier apresentou seu projeto Cidade Radiante para Paris, Antuérpia, Moscou e Argel. Em 1949, ele elaborou o plano para Chandigar, a capital dos estados do Punjabe e de Haryana, na Índia. Essa foi a primeira cidade planejada no território indiano independente, onde Le Corbusier aplicou seu harmonioso sistema de zoneamento e projetou o Complexo Central Capitol, composto pela Alta Corte, o Palácio da Assembleia e o Secretariado. Outra conquista que demonstra a influência de suas ideias foi a concepção de Brasília, a capital do Brasil. O projeto foi desenvolvido pelo arquiteto, urbanista e professor francês Lúcio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima Costa (1902 - 1998) em parceria com o arquiteto brasileiro Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho (1907 - 2012). A dupla concebeu Brasília geometricamente perfeita, construiu imponentes setores administrativos e bairros residenciais confortáveis e idênticos, todos de propriedade federal.
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Plano piloto de Brasília ▪ Fonte: Senado
O projeto de criação de Brasília pretendia concretizar os princípios de igualdade e justiça, que eram essenciais a Le Corbusier, Costa e Niemeyer. No entanto, anos mais tarde, eles constatarem que esses princípios foram destruídos pelas práticas políticas na cidade.

Atualmente, as cidades construídas sob a influência do Modernismo, conforme idealizado por Corbusier, são frequentemente descritas como utópicas. É o caso de Brasília, que, devido à má administração, tem sido alvo de críticas por não ter preservado os hábitos culturais e de lazer de seus moradores. Além disso, os blocos de apartamentos inspirados na Unidade da Habitação, criados por Le Corbusier, que estão presentes nos arredores de várias grandes cidades, tornaram-se focos de pobreza, uso de drogas ilegais e criminalidade; muitos deles foram reformados ou demolidos.

A concepção de embelezar a cidade por meio de um planejamento que dá ênfase à estetização da vida e ao bem-estar social é tão essencial hoje quanto era em 1933, quando Le Corbusier publicou Carta de Atenas. Questões como preservar a qualidade de vida, melhorar a mobilidade urbana, evitar a poluição sonora e preservar espaços públicos de lazer e cultura, que foram abordadas pelo arquiteto, continuam sendo preocupações importantes dos urbanistas nas revitalizações das cidades, pois a arquitetura faz a cidade ser bonita, estetiza a vida e promove a felicidade como um bem comum.

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