A Casa de José Américo está resgatando o que se escreveu sobre o livro A Paraíba e seus problemas , nestes cem anos de presença do li...

Cem anos de um grande livro

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A Casa de José Américo está resgatando o que se escreveu sobre o livro A Paraíba e seus problemas, nestes cem anos de presença do livro na biblioteca brasileira de estudos regionais.

Em sua 1ª edição de 1923, objetivava-se, de imediato, “expressar ao sr. Epitácio Pessoa o reconhecimento da Paraíba pelos benefícios outorgados como solução do problema das secas; perpetuar num livro a história desse esforço redentor.”

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José Honório Rodrigues Arq. Nacional
Em 1979, decorridos mais de cinquenta anos desse justo reconhecimento, todo o Nordeste voltado para a revolução do desenvolvimento econômico, simbolizada e instrumentalizada pela ação da Sudene, vem o papa da nova historiografia brasileira, José Honório Rodrigues, e realimenta, ao lado da crítica literária, a força do estudo e da mensagem do livro destinado a consagrar a ação extraordinária das Obras Contra as Secas, relegadas pela onda desenvolvimentista como precária “solução hidráulica” Reitera: “ Este livro tem 56 anos de vida, mas ainda tem viço e força e creio que terá por outros muitos anos.”

Isto numa análise de mestre, capítulo por capítulo, sobrelevando o “antropossocial, e pela tentativa pioneira à sua época de descrever o caráter e a personalidade do paraibano, as várias etnias que compuseram a população, os vários grupos indígenas, os africanos, a variedade da mestiçagem, definindo o paraibano, o urbano e o sertanejo”. A parte que não se previa na encomenda oficial.

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“O crítico social, o pensador político, o historiador analista aprofunda os aspectos sociais, revela a força do povo paraibano, que como todo povo brasileiro tem dado mais ao país que o país a eles, porque uma minoria dominadora não lhe reconhece os direitos e o despreza e marginaliza nos usufrutos dos benefícios por ele, povo, produzidos” — volta o autor de Aspirações Nacionais.

Mais de quatro décadas depois, com a urbanização de quase toda a população, a expansão da escola em todos os níveis mesmo sem contar muito com a qualidade, com um sistema de acesso à saúde incomparável aos do próprio governo José Américo, com estrada de acesso a todas as cidades, sem uma biboca sem luz ou sem água de elevatório ou de poço, o que iremos ler ou o que pode exigir o leitor de hoje de um estudo de 1920/23?

A fortuna crítica em preparo deve dizer. Reúne grandes vozes contemporâneas do livro, como Jackson de Figueiredo, Josué de Castro, Gilberto Freyre, José Lins do Rego, seguidos de Manuel Correia de Andrade, José Rafael de Menezes, José Octávio de Arruda Mello, Deusdedith Leitão, Aécio Vilar de Aquino, caindo hoje na nova crítica fermentada na nossa Universidade.

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Em Eu e Eles, na serenidade dos seus oitenta anos, acalmado e desobrigado do seu destino de cúpulas, José Américo confere ao livro que mais exigiu de sua vocação literária, escrito com trinta e poucos anos, a sua compensadora realização. “É o que tenho de melhor”. E o que mais o preparou para A Bagaceira: “Sentei-me na terra, conversei com instintos e preconceitos e dei uma nota social ao quadro”. Vem dessa nota a nova leitura fruto da Universidade que ele criara.

O ministro Oswaldo Trigueiro, no perfil que dedica a José Américo em Galeria Paraibana (1998) parece errar nesta profecia: “Por conta da política o escritor José Américo ficará na literatura como escritor de um livro só, isto é, como o autor de A Bagaceira, já que a pequena novela de estreia não resistiu à erosão do tempo, e Boqueirão e Coiteiros não são obras dignas de seu renome.” E omitiu por sua própria conta A Paraíba e seus problemas. Não se davam bem na política.

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