As cores do Cabo Branco

Há um pedacinho da Praia de Cabo Branco que é mágico. Ali, nas curvas finais do bairro que se estende entre a falésia às suas costas e o Oceano Atlântico diante dos seus olhos, ocorre a aproximação da barreira com as águas salgadas. Uma pista separa mar e terra. As ondas mostram seguidamente o desejo de beijar o relevo e força passagem. O homem, um teimoso em mostrar que pode domar a natureza, reconstrói a estrada, que, provavelmente, voltará a ser danificada. Um ciclo em que o ser humano perde sempre.

Celyn Kang

O duelo homem e natureza, contudo, também é poesia. Ali, naquelas suaves curvas, os dias se sucedem feito uma paleta de cores de um artista caprichoso. São pinceladas que transformam um único cenário em muitas possibilidades. Do azul diurno ao tom brilhante das primeiras horas e da virada para a noite, no quase negro das horas mortas.

A aquarela transborda. Em dias de chuvas, brancos e cinzas se misturam ao azul forte de nuvens carregadas, prontas para lavar a terra. Ao longe, um pedaço da cidade e seus prédios-monstros desaparecem. O oceano se une ao céu formando um único plano, uma cortina de um espetáculo que avança em aparente uniformidade.

Em dias de sol firme, o colorido adquire padrões mais quentes. Do azul celeste ao amarelo ouro durante o dia. Novamente, ao raiar o novo dia ou ao acordar da noite há o fenômeno dos laranjas e vermelhos descortinados. Uma nova pele se esparrama pelo mundaréu de águas, se atiram pela falésia, se contorcem no formato das plantas. Se a maré é baixa, um espelho da areia embebida na água salgada reflete céus. Tudo vira espetáculo.

Enseada da Praia do Cabo Branco (Paraíba)
Clóvis Roberto

Os movimentos das pessoas se alternam. Aqui e acolá irrompem passantes atletas em corridas ou montados em bicicletas. Surgem um ou outro carro, em ritmo reduzido diante da ameaça do desmoronamento, obra da natureza do oceano, ventos em choque com o relevo, problema acelerado pelo homem em ação, em construções e destruições. Há também casais a degustar a visualização.

Das mesmas curvas, nas noites se vê rasgo de estrelas ou o clarão orientador a atravessar as águas do farol incansável a indicar a costa às grandes embarcações e aos pescadores que buscam no mar o pescado para garantir a sobrevivência e confiam na proteção de Iemanjá a volta em segurança.

O final do Cabo Branco, por vezes, respira quietude. Em outras, o mar agita-se, debate-se, salta sobre a mureta e lava o concreto e o asfalto. Em todas as formas, é belo, poético, banha a alma.

Celyn Kang

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