Duas pessoas foram fundamentais no processo de atualização, digamos assim, do jornal A União, a partir do começo dos anos 1980, que...

Agnaldo Almeida: o nosso Alberto Dines

agnaldo almeida jornalismo paraibano
Duas pessoas foram fundamentais no processo de atualização, digamos assim, do jornal A União, a partir do começo dos anos 1980, que coincidiu com minha passagem por lá: Domício Córdula e Agnaldo Almeida. Domício, o mago das fotos coloridas, fazia uma “seleção de cores” impecável, de fazer inveja aos grandes profissionais do Sudeste. Grande profissional, Domício Córdula! Pena que, por razões que desconheço, não queira dar um depoimento para as memórias do jornal.

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@auniao.pb.gov.br
Agora Agnaldo Almeida, esse, sim, foi o bam-bam-bam das inovações gráficas e de conteúdo daquele período. Posso dizer que o editor Agnaldo Almeida, mesmo diante de uma crônica precariedade de meios, colocou A União na vanguarda da imprensa local. Agnaldo sempre foi apaixonado pela palavra escrita, pelo jornalismo e sobretudo pelo ato de fazer jornal. Posso dizer que foi o nosso Alberto Dines.

Talvez por ser bioquímico, ele tinha, na editoria, a paciência característica dos grandes pesquisadores. Seu hobby era fazer experimentos, sobretudo na sua “cria”, o Jornal de Domingo. Fazia seus experimentos e esperava a repercussão nas conversas com colegas de trabalho, loucos pelo ofício como ele, especialmente os pupilos Sílvio Osias e Luiz Carlos Nascimento Souza.

Lembro que imaginou utilizar cor nas páginas do jornal, uma revolução para a época. Com a paciência dos grandes enxadristas, primeiro ele colocou um ponto azul na capa do Jornal de Domingo. Só um ponto azul, mas que resultou em boas risadas diante dos que procuravam saber a razão daquela novidade, na sala da editoria, lá na João Amorim. Era exatamente isto que ele queria saber: que impacto teria causado no leitor aquele solitário pontinho azul no conjunto de letras pretas da página.

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Sitônio Pinto, Petrônio Souto, Agnaldo Almeida e Hélio Zenaide Acervo do autor
Além do ponto azul, apareceu em edições posteriores um discreto friso azul, bem fininho, envolvendo a grande entrevista do domingo. Outro burburinho na João Amorim. Agnaldo, mais uma vez, ouvia pacientemente os curiosos a respeito daquela sua “provocação”. Fazendo da editoria seu laboratório, só depois de seus ensaios e dos “feedbacks” recebidos, partia para uma mudança mais ousada, normalmente bastante criativa, consistente e agradável.

A verdade é que, exercitando sua imaginação fértil, de experimento em experimento, Agnaldo consolidou A União como o jornal de província mais afinado com as “invenções” do eixo Rio – São Paulo, sobretudo do JB de Alberto Dines.

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Petrônio Souto e Agnaldo Almeida Acervo do autor
A criatividade dele garantiu a nossa contemporaneidade. Na época (os números estavam comigo), mesmo “bichados” por sermos “chapa-branca”, competíamos com os nossos concorrentes numa boa, porque tivemos a sabedoria de descobrir o nosso melhor caminho – a cultura, escolha respaldada pelo prêmio nacional do Correio das Artes, nosso diferencial.

Mas, desencontros do nosso massacrante cotidiano de trabalho me levaram a trocá-lo pelo ainda muito jovem Walter Galvão, depois pelo competente e sempre sereno Werneck Barreto. Ambos excelentes, sem dúvida, mas hoje vejo que A União perdeu muito com a saída de Agnaldo da Editoria. E, passados mais de 40 anos, me penitencio por ter tomado essa decisão.

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  1. Que maravilhaoso relato. Petrônio, você como sempre, com uma excelente memória.

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