A quanto dista o zelo do cientista ao abuso apaixonado do poeta com a palavra?
Aprendi assim, colhendo poesia no coração lúdico das pessoas; era um tempo em que desconhecia o bombear cardíaco, apesar de sentir aquela aceleração gostosa no peito - condição comum para os apaixonados platônicos de todos os tempos.
Aprendi assim, colhendo poesia no coração lúdico das pessoas; era um tempo em que desconhecia o bombear cardíaco, apesar de sentir aquela aceleração gostosa no peito - condição comum para os apaixonados platônicos de todos os tempos.
A poesia se entranhou, criou jurisprudência, se encheu de argumentos e “se instalou feito posseira dentro do meu coração.”
Mas a vida é mais irônica que as palavras, e não mais que de repente “o alvo do cupido” mostrou que tinha aplicabilidade prática e “regia” não só a alma.
Foi nesta pausa para estudos, em que vesti a máscara do acadêmico de medicina, e custei a reconhecer que pulsar e bombear o sangue era a outra face, agora pragmática, e nem um pouco lúdica, que o coração usava para manter o esteta vivo.
Mas vi o coração parar e levar meu pai.
E foi assim que a ponte que ligava os meus hemisférios cerebrais permitiu o diálogo entre o poeta e o médico.
Somos seres múltiplos, e, assim sendo, nos são permitidos o coração que transcende e o que rege o ser imanente.
O coração que contrai, bate, repica, dispara, fala, apanha e, em algum momento, se cala.