“Poesia
não é meio de vida
É um modo de viver”
não é meio de vida
É um modo de viver”
Viver e morrer, qual a glória? A pergunta, inscrita num poema de Professor Hildeberto Barbosa Filho, tem uma intensidade mágica especial. São versos de uma vitalidade agressiva que nos lança nas grandezas e misérias do que somos, enquanto inexoravelmente para a morte.
Não lhe incomoda a solidão, o abandono, o esquecimento; quando o nada acontece nele e com ele (tenho em mãos seu livro “... e nada aconteceu comigo”) Professor Hildeberto parece sofrer a brevidade de tudo, sentir que o incômodo é a vida mesma, no seu fundo de desesperança e desespero, miserável e fascinante.
Como grande poeta que é, não foge às interrogações que batem à sua morada. Como ele mesmo diz, quem faz poesia suporta tudo. Suporta sim. No exercício de sua potência artística criadora, ele assume uma relação íntima com tudo que é, articula sentidos extraídos da existência mesma e surge como um instaurador de mundo, como fundador de uma rede de significâncias, referências e sentido que revela a existência como um constante criar-se e recriar-se, fazer-se e refazer-se. Inserido voluntariamente no claustro de um poema, confessa-se mais livre, mais vivo.
Poesia, ele magistralmente nos ensina, é um modo de viver e não um meio de vida. Diz do ingressar corajoso na zona de mistério que é o existir, sentir a acontescência do nada, permitir-se ouvir a palavra do silêncio e consentir no surgir da coisa mesma, captada num gesto poético, com um olhar acolhedor e solidário. É um modo de viver sim, viver como intérprete, em relação hermenêutica com o que se mostra; viver como ser desvelante face à vida, viver vida habitante, experimentar o mundo como habitação, como nos diz também Hölderlin, outro grande, em cujos versos poesia e pensamento também se entrelaçam.
A extraordinária poesia de professor Hildeberto, como a obra de Magritte que ilustra a capa, nos convida a reconfigurar o nosso olhar, a questionar o que vemos e o modo como interpretamos o mundo ao nosso redor. Não só isso. Ajuda-nos a reconhecer a transitoriedade de todas as coisas, a confrontar a realidade do fim mas, sobretudo, nos desperta e encoraja para viver uma vida autêntica, genuína, verdadeira, acompanhada em sua dinâmica, em seu movimento de silêncios e dizeres. Decidido a ficar dentro do poema – dentro do poema respiro o ar puro das palavras – mergulha no silêncio que salva, inaugurando instâncias de conversação e diálogo, que possibilitam respostas para os reclamos urgentes desse nosso tempo de barulhos rudes, repulsiva indiferença e fingido entusiasmo.