Nos anos 1980, eu era um garoto de 14 anos, quando li, na sessão de cartas de um gibi de super-heróis, o telefone e o endereço de Emir Ribeiro . Ele já era um quadrinhista renomado, com desenhos publicados nos Estados Unidos.
Eu acompanhava a personagem criada por ele, a maior heroína dos quadrinhos nacionais, através de publicações esparsas, que tinha encontrado em bancas ou sebos. Vi a oportunidade de conhecer um artista famoso, um ícone para mim.
Não havia e-mail, celular nem redes sociais na época. Para contatar alguém, você tinha mesmo de incomodar a pessoa em tempo real, fazendo o telefone fixo soar uma campainha alta e estridente dentro da casa do contatado!
Com a "noção" típica da idade, não me fiz de rogado, e liguei para ele. Em vez de desconversar e me enxotar, o que seria o natural, diante de um adolescente curioso que vinha chateá-lo, ele me recebeu com grande gentileza e generosidade em seu apartamento.
Deu-me revistas da Velta e de seus outros personagens, exemplares de fanzines que produzia e um bocado do seu tempo. Helena, sua esposa, sempre muito gentil, simpática e paciente, ainda me ofereceu uns lanches.
Tornamo-nos amigos e passei a colaborar no fanzine produzido por ele, sobre o Hulk, o "Gigante Verde", que depois se dedicou mais aos quadrinhos nacionais, tendo o nome reduzido para "Gigante".
Também dei uns pitacos e fiz pontas nos dois filmes que ele produziu sobre o "Homem de Preto", o justiceiro urbano de João Pessoa.
Esse ano, a nossa amizade completa 36 primaveras e Velta, a sua obra prima, 50.
O interessante é que, quando Emir criou a Velta, ele também tinha 14 anos. Ele a criou e eu a descobri, ambos na adolescência. Velta foi concebida em 18 de janeiro de 1973, numa pintura em tinta a óleo. Outra coincidência é que ela nasceu num dia 18, e eu também. É apenas quatro meses mais velha do que eu.
Apareceu, pela primeira vez, no jornal mural "O Comunicador", do então Colégio Estadual de Jaguaribe, no bairro do mesmo nome, por volta de março de 1973.
Em 1º de agosto de 1975, Velta estreou no Jornal A União, através de uma série de Histórias em Quadrinhos, em formato de tiras diárias.
Era uma protagonista mulher, loira e gigante, mas com o corpo inspirado nos das mulatas brasileiras do grupo do apresentador Osvaldo Sargentelli.
O espaço por aqui acabou, e eu já vou com 50 anos, passado já do meio do caminho, mas, para Velta, é só o começo.