Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), filósofo prussiano, em seu primeiro livro, O mundo como Vontade e como representação (1819), cons...

Vontade e Representação

filosofia schopenhauer
Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), filósofo prussiano, em seu primeiro livro, O mundo como Vontade e como representação (1819), considera o mundo como fenômeno, ou seja, algo é percebido e representado. No Tomo II da referida obra, o pensador afirma que o mundo possui uma essência: a Vontade. Ele diz que o sujeito é o fundamento do mundo. Conforme seu pensamento (2015, p. 5): "Tudo o que existe, existe para o sujeito".
filosofia schopenhauer
O Tomo I começa com a seguinte reflexão:

"O mundo é a minha representação. Essa proposição é uma verdade para todo ser vivo e pensante embora só no homem chegue a transformar-se em conhecimento abstrato e refletido.”
Id., 2005, p. 1

Essa tese, que é um dos fundamentos da sua filosofia, também apresenta o conhecimento sendo construído na relação da intuição sensível à capacidade de interpretar os objetos da realidade, permitindo que possam ser conhecidos de forma universal e necessária. Por exemplo: os princípios da individuação e da causalidade, favorecidos de uma entidade metafísica. O filósofo prussiano garante que é possível chegar até o extranatural pelo corpo humano e que a razão se torna um mecanismo de autopreservação da espécie.

De acordo com Schopenhauer, a Vontade, de forma geral, é o desejo constante de viver, que está presente tanto em organismos quanto no reino inorgânico, em diferentes graus, sendo o corpo humano o mais elevado grau de objetivação. A Vontade aponta para as motivações desconhecidas das ações humanas, no sentido de que os seres humanos são conduzidos por impulsos — fome, sede, medo, sexo e outras coisas — que estão além do controle humano e que, no entanto, determinam as ações, mesmo aquelas que parecem ser provenientes
J. Schäfer, 1859
de uma decisão racional e se encontram submetidas às necessidades vitais para sobrevivência.

Arthur Schopenhauer admite que existe algo no interior do ser humano que não pode ser explicado ou controlado. Existe também a Vontade, de onde as ações provêm, e que não possui fundamento ou finalidade. Por causa disso, conceitos como liberdade e autonomia são ilusões, pois os humanos, assim como outros seres, são guiados por um núcleo irracional e suas atitudes não podem ser determinadas de forma racional. Assim, a razão não pode ser uma entidade abstrata desvinculada da realidade. Para o filósofo, não existem objetos transcendentais fora da experiência, mas, sim, inerentes ao mundo físico e ao próprio corpo. O "ato da vontade" e a "ação do corpo" são "uma única e mesma coisa, só que apresentados de duas maneiras completamente distintas" (SCHOPENHAUER, 2001, p. 157). Deve-se considerar o corpo como a "materialização da Vontade". Esse termo foi criado para expressar a manifestação visível da Vontade no corpo, o qual é o único objeto que não se conhece apenas do ponto de vista da representação - que é o modo pelo qual se distingue todos os outros, de imediato pela Vontade. As contribuições da filosofia schopenhaueriana para o idealismo apresenta o aspecto fisiológico, que faz com que a razão não tenha a importância central na metafísica; e sim o corpo.

Schopenhauer considera a Vontade o motivo de todo o sofrimento no mundo. Os indivíduos estão constantemente em busca da matéria, que, no entanto, é finita e constante. Jair Barboza, em seu livro Schopenhauer:
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O. Gentileschi, 1612
A decifração do enigma do mundo
(Ed. Paulus, 2003), remarca a seguinte frase do filósofo prussiano: "Cada pessoa só pode surgir se tomar o lugar de outra, se apoderando da matéria que está no poder. É por isso que vemos conflitos e lutas em todos os lugares". Essa é a razão de a existência ser repleta de conflitos, pois a Vontade está constantemente em discordância consigo mesma quando encontra um obstáculo. Por outro lado, quando se alcança o objetivo esperado, tem-se satisfação. Mas nenhuma satisfação é duradoura. Assim que um desejo é satisfeito, surge outro em seu lugar. Schopenhauer descreve esse sofrimento como uma essência atemporal, mostrando que a dor é inevitável e os esforços para acabar com ela nunca são eficazes.

A forma como a angústia se manifesta ao longo da história ou nas sociedades não nos revela sua causa, pois esta reside em um princípio metafísico implícito a tudo, desde o reino inorgânico até o orgânico. A busca pela causa externa de um mal-estar, ou sua relação com determinado nível de riqueza ou posição social, não é determinante. Viver é sofrer. E a felicidade é conceituada como breves momentos em que a tristeza é aliviada. Segundo Schopenhauer (2015, p. 409):

"Tanto a extrema alegria quanto a dor sempre se baseia em um engano: portanto, essas duas tensões mentais excessivas podem ser evitadas por meio da compreensão."
filosofia schopenhauer
Orazio Gentileschi, 1612
A filosofia schopenhaueriana apresenta opções para purificar o sofrimento. Uma delas é quando o ser humano se dedica à contemplação artística ao usar a intuição para mergulhar na própria Vontade e controlá-la. Na arte, a relação entre a Vontade e a representação se inverte. Desse modo, a inteligência constrói a história da sua própria Vontade. Schopenhauer considera a música a arte de maior destaque, porque ela expressa a Vontade em sua essência e liberta o homem dos sofrimentos.

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