A arte nos aproxima de antigas civilizações e com maior efervescência ao período glorioso dos gregos e romanos que moldaram o pensamento ocidental. Essa sensação de proximidade proporcionada pela Arte e a Poesia sempre ocorre quando visito algum templo de feições antigas.
Essa sensação eu tive por ocasião das homenagens póstuma que a Academia Paraibana de Letras prestou ao poeta Paulo Galvão, quando de sua morte, há sete anos.
Conhecia este poeta de longe e pelo que escrevia. Sem que seus poemas me arrastassem a formular uma opinião. Meu contato era de ouvir dizer, arrolado em conversas à porta de livraria, em lançamento de algum livro. Mas sempre o tendo como um bom poeta.
Entretanto, depois dos depoimentos do historiador Humberto Melo, do poeta/compositor Carlos Aranha e do escritor/médico Astênio Fernandes, fui atrás da obra de Paulo Galvão e, num final de semana, degustei o livro Corpo transitório, ao qual tive acesso na biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano.
A arte nos aproximou. Porque a arte é uma conjugação de emoções que move o sentimento humano. A arte aproxima as pessoas por mais distante que estejam. Os poetas entendem isso, e nos atraem por meio de seus poemas.
Mais do que um tributo ao médico e poeta paraibano falecido em 2016, o evento em sua memória transformou-se em um encontro literário de alto nível. A começar pelas exposições dos convidados a dissecar sobre a vida do acadêmico, e a análise da obra dele feita pelos palestrantes deu a dimensão de que a arte é necessária para aproximar as pessoas.
Ainda sem ocupar lugar de destaque na galeria dos poetas conhecidos, pouco estudado e com presença discreta nos suplementos de cultura da Paraíba, Paulo Galvão certamente não ficará apenas na imortalidade da Academia Paraibana de Letras. Mas Astênio proporcionou conhecer detalhes da vida e da produção literária deste poeta de fina sensibilidade.
Baseando-me nas palavras escutadas naquela noite, busquei suas obras e, numa leitura preliminar, percebe-se que Paulo Galvão integra um escol de elevado poder de criação poética.
Se o historiador Humberto Melo, no alto de sua capacidade interpretativa de fatos da história e da vida cotidiana da Paraíba, nas últimas décadas, nos apresentou Paulo Galvão como um homem singular e familiar, por sua vez, Carlos Aranha nos levou a pensar como a Paraíba esquece seus talentos. “Paulo Galvão precisa ser resgatado, ou melhor, ser relançado”, disse o autor de Nós, an insight. O médico e escritor Astênio Fernandes, na mesma ocasião, trouxe ao conhecimento da plateia apontamentos que nos ajudaram a compreender o valor da obra literária de Galvão. Ele leu trechos de um estudo crítico de autoria de Gilberto Mendonça Teles, igualmente poeta e estudioso da Literatura Brasileira, para quem o paraibano é “um requintado artista da palavra e esteta da linguagem”.
Goethe nos ensina: “Quem quiser compreender um poeta, deve pôr-se sob o seu domínio”.
Cabe-nos escavacar na história da literatura paraibana qual a posição Paulo Galvão ocupa, mesmo que, não sendo lembrado com o devido merecimento, sabemos que os poetas se encantam para renascer na neblina que faz brotar as flores em cada amanhecer.
As instituições deveriam ajudar na preservação da memória e abrir caminhos para que possamos aprender a viver “sob o domínio” da arte.
Desse modo poderíamos corresponder a opinião do poeta alemão.
Como arquiteto da palavra, o poeta sobrevive quando sua obra é refletida.
Paulo Galvão bem que poderia ser mais divulgado, entrar na programação cultural das universidades e escolas com o patrocínio do governo. Pena que o debate sobre sua obra poética esteve apenas naquela noite, quando se fazia memória pela passagem do trigésimo dia de sua morte, e nunca mais se falou nele.
Temos outros nomes que poderiam estar sendo discutidos e estudados.