Queridos amigos, nesta segunda-feira (24/7) vou iniciar uma última jornada como repórter. Quero encerrar a carreira jornalística escrevendo sobre o Oiapoque e a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas. Não só farei uma série de reportagens. Também vou coletar informações para a segunda edição ampliada
e corrigida de meu livro "História de Oiapoque", publicado pelo Senado Federal.
Nesta última viagem — com os fotógrafos Elza Lima e Manoel Netol — vocês terão a oportunidade de acompanhar todos os detalhes da jornada à Amazônia profunda: publicarei um diário nas redes sociais para mostrar as duas faces da Amazônia, as paisagens extraordinárias e as dificuldades (lugares remotos, ausência de serviços básicos, a vida nas comunidades ribeirinhas e nas aldeias indígenas (se o cacique me autorizar a entrar), o rio, os problemas ambientais e sociais). Ao final da viagem, em Brasília, entrevistarei algumas autoridades e cientistas diretamente envolvidos com a questão do petróleo, a fim de abordar os aspectos econômicos e ambientais.
Gostaria de lhes pedir que, se possível, divulguem a série de reportagens. Além da publicação já oferecida a alguns jornais e portais, elas estarão completamente disponíveis gratuitamente na minha página: é uma forma de garantir minha total liberdade na apuração e meu compromisso em escrever de forma honesta e sem viés sobre um tema extremamente relevante para o Brasil.
Nas fotos, imagens feitas por Elza Lima na Amazônia, por mim e por Manoel Neto, que registrou minha viagem ao Oiapoque em 2019, na qual encontrei pela última vez uma das mais importantes figuras da comunidade indígena, o cacique Geraldo Lod, na aldeia dos Galibi-Kali’na.
Dia 1
O roteiro para o Oiapoque iniciou em Belém (PA). Escolhi mostrar um cenário menos conhecido da cidade. Este é o Campus da Universidade Federal do Pará (UFPa). Localizado às margens do rio Guamá, é cercado por árvores e pássaros amazônicos. Vez por outra, passa uma embarcação de ribeirinho, uma canoa de pescador... Um casal de estudantes — Vinicius e Jenifer — namora na paisagem encantada.De Belém, tomamos um avião para Macapá e amanhã sairemos às 5h30 da madrugada para ir ao Oiapoque pela BR-156. São 600 quilômetros de estrada, dos quais cem quilômetros não são asfaltados.
Dia 2.
Na estrada a vida se desabotoa. Nossa equipe percorreu a BR-156, que liga Macapá a Oiapoque. Prevista para ser publicada no dia 16 de agosto, a primeira reportagem da série que estamos preparando é sobre os personagens que encontramos ao longo da rodovia. Pessoas simples, que trabalham mais de dezesseis horas por dia, que emocionam por sua dignidade e coragem. São histórias magníficas da gente da Amazônia.
No começo da viagem — que durou quinze horas — passamos pelo município de Mazagão (AP), onde estava acontecendo a tradicional festa de Santiago, que simula um combate entre cristãos e mouros. Depois seguimos pela rodovia que possui 100 km sem asfaltamento e constitui um autêntico desafio. Veja algumas fotografias da premiada Elza Lima, que vão integrar as reportagens sobre a Amazônia e a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa.
Quando tudo em torno de mim se dissolve ou perde o sentido, eu me volto para a Amazônia, um lugar onde a vida pulsa em ritmo diferente. Há um perfume vindo da floresta, há um chamado vindo das águas, há um amor que transborda nesses rostos que amo. Eu sou o leito deste rio, eu sou as minhas irmãs Galibi Kali’na que abrem os braços para me receber; eu sou a terra, vermelha como o sangue mais vivo. O Oiapoque é o meu país. O único lugar do mundo a que sinto que pertenço...