Epigrama I De como os poetastros, camelôs de sua própria arte, com pompa e circunstância, outorgam para si o título de poetas ...

Treze epigramas a poetas e poetastros

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Epigrama I
De como os poetastros, camelôs de sua própria arte, com pompa e circunstância, outorgam para si o título de poetas

O que diabo é ser poeta? me pergunto todo dia... Qualquer um assim se elege ou o elege a poesia? Pelos versos que eu leio, quase sempre com senões, cada vez mais admiro o poeta que é Camões!
Epigrama II
Aos amigos e poetas João Trindade e Linaldo Guedes

Ser rimada ou não rimada não define a poesia; rima é um componente, instrumento de eufonia. Inefável, inaudita, tem essência, tem constância; metro e rima são só forma; a poesia, substância. A rigor, nem de palavras, necessita a poesia: numa música, numa imagem se desvela e se anuncia. Se a poesia é o que se cria, se o poema é o ser criado, não prescinde da estesis, sempre do palavreado. O poeta não faz metro, Aristóteles já dizia; O poeta tece tramas, alma de toda poesia.
Epigrama III

Construí meus epigramas, já na curva descendente, com a poesia submissa a uma língua maldizente. E por fim o que me resta? O que isto a mim destina? A poesia em desterro e uma língua mais ferina.
Epigrama IV
Epigrama a partir do trecho 245ab do Fedro de Platão, aos Poetas e candidatos a...

O delírio com que a Musa agracia o poeta o desperta, o transporta e o leva à sua meta, ordenando o seu canto e os feitos mais antigos, e ainda educando os epígonos amigos. O que à porta da Poesia, só de técnica munido, bate e pensa que, perfeito, será logo conhecido, é poeta inacabado, pois a Musa rejeitada tornará, com os delirantes, a poesia eclipsada.
Epigrama V
Ao Catão de subúrbio...

O poeta rancoroso, com o dedo sempre em riste, recrimina todo o mundo; a um exame não resiste. Falastrão e acusador, de moral que crê sem jaça, é relapso, contudo; a preguiça nem disfarça. Acredita-se intocável, por se crer um bom poeta: capitula o bom caráter e persiste o mau esteta.
Epigrama VI

A poesia não terá, talvez, só arte poética, sendo o epigrama o relho, pra quem age contra a ética.
Epigrama VII

O poeta-em-lá-menor, com empáfia se entedia: A notícia ele requenta e requenta até poesia.
Epigrama VIII
Definição do poetastro enfatuado

Vou fruindo meu poeta, lá dos Matos da Bahia, perguntando do sucesso e de tanta idolatria que se faz a um ignorante, um ser bruto sem igual, tendo ele respondido com seu verso magistral: “– Eu lhe digo, de início, com um verso três por dez, e depois em redondilhos, quem não vale dez mil-réis: Entre catervas de asno se meteu, E entre corjas de bestas se aclamou, Naquela Salamanca o doutorou, E nesta salacega floresceu”. Com a primeira explicação, já Gregório satisfez, mas seguindo adiante, completou o entremez: “O saber muito abatido, A ignorância, e ignorante Mui ufano, e mui farfante Sem pena ou contradição: Milagres do Brasil são”. Eis aí, caros amigos, a ajuda de efeito, de Gregório Matos Guerra, definido o tal sujeito.
Epigrama VIII

Incomodam minhas nugas a poetas laureados. Se vos credes excelentes, porque estais incomodados?
Epigrama IX

Pior asno que existe é o asno enfatuado, por dá cá aquela palha, já se toma por letrado; manda todo o mundo ler e se vende como culto, mas aquilo que publica, o diploma como estulto, se tomando por poeta com um versinho tão raquítico, um versinho ralo e reles, num poema sifilítico. Se revolta quando fecha qualquer uma livraria, a leitura, no entanto, nunca foi-lhe uma iguaria. Seu nariz é empinado, é posudo, ar altivo, mas no campo do saber, nunca passa de cattivo. Quer saber reconhecê-lo, separá-lo da folia? Muito fácil, pois um asno outro sempre elogia.
Epigrama X

De repente o Brasil, terra ruda e ignara, é tomado de Ciência... – Nunca eu imaginara! E quão múltiplo em saberes é do Face o morador: É poeta, cientista, é jurista, historiador... Mas os doutos que aqui troam, sem bemóis, nem sustenidos, só expressam, em uníssono, o coral dos ressentidos.
Epigrama XI

O poeta da Eneida, sempre em Roma celebrado, detestava exposição, se escondia incomodado. Na província, é diferente; o poeta, a todo o custo, com uns versos bem franzinos, quer a fama de venusto.
Epigrama XII

Os poetas miram alto, raros chegam aos astros, mais comum é que ocorra se tornarem poetastros.
Epigrama XIII

Ambrosino já se vê, a medalha sobre o peito, recebendo os encômios de escritor mais-que-perfeito; o laurel de acadêmico, ostentando em pedestal, e o broche na lapela, carimbando o imortal. Ao espelho enfunado, num orgulho que transborda, nem percebe mais a plebe – destacara-se da horda! Não imagina Ambrosino, que à academia corre, dar a outro orgulhoso, grande júbilo quando morre.

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  1. Belos epigramas, meu professor Milton Marques Júnior.

    Raniery Abrantes

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  2. Obrigado, Poeta Raniery!

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