O sofrimento humano, em geral, fortalece os valores morais relacionados ao bem comum, quando uma pessoa procura conhecer a si mesma par...

Trágico e a Tragédia

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O sofrimento humano, em geral, fortalece os valores morais relacionados ao bem comum, quando uma pessoa procura conhecer a si mesma para curar suas próprias feridas emocionais: depressão, irritabilidade, pensamentos obsessivos, dificuldade de concentração e outros. Auto-cuidado leva à compaixão. Esse comportamento evita impulsos autodestrutivos e também impede que outros se destruam em dificuldades trágicas. No atual século, a grande maioria das pessoas enfrenta de forma trágica o dilema entre a necessidade de se afirmar e o desejo de intervir no mundo, com o objetivo de se tornarem agentes de suas próprias ações e se sentirem verdadeiramente conectadas consigo mesmas. A própria existência neste mundo
Terry Eagleton
gera ao mesmo tempo o conflito entre o anseio e a obrigação, e sobretudo, a incapacidade de conciliação, resultando em angústias.

Terry Eagleton (1943), filósofo e crítico literário britânico, destaca a existência do trágico como um dos elementos fundamentais da sobrevivência humana. Com esta compreensão, a tragédia se expandiu a uma visão de mundo, isto é, um conceito acerca do ser humano e sua relação com a realidade ao seu redor. O trágico revela a dor, a aflição, cuja razão maior é a própria certeza da morte. Um dos argumentos por ele sinalizado é a caracterização da tragédia como uma reflexão sobre algo não conceitual, que excede a razão. É a enunciação daquilo que foi silenciado, que pode tornar possível a experiência inevitável da dor e da morte. Consequentemente, o conflito que move à visão de mundo, presente na tensão entre destino e liberdade, expõe a fragilidade da existência humana.

Nos dias atuais, o trágico se expressa de duas formas: primeiro, a ideia da autodivisão, como uma vontade de resistir à tirania do destino, de afirmar a própria identidade diante de situações adversas e de alcançar a liberdade; segundo, somente pode ser considerado trágico o fim do que não pode ser eliminado e o que não pode ser rejeitado como desagradável na própria existência.
O sentimento que aflige a pessoa a ponto de criar uma ferida incurável é a percepção do conflito entre a vontade e a necessidade, a discordância entre a lei moral — a afirmação da liberdade - e a lei natural — a preservação do bem-estar. Portanto, o trágico reside nessa relação frágil e tensa entre o temor da ruptura do ser e a inclinação para consumá-la. A emergência de uma nova forma de compreensão e relação com o tempo e a história causou um desconforto devido à perda de certezas individuais. Isso contribuiu para o sentimento de afastamento entre o homem e a sua natureza. Além do mais, as transformações sociais, econômicas, políticas contribuíram para a perda do sentido de existência e de pertencimento.

A distância entre a vivência do tempo histórico e as expectativas que se têm dele é experienciada de maneira distinta. A diferença entre o que se vive e o que se espera gera uma sensação no presente de que o tempo pode ser medido através das mudanças, mas principalmente de que o tempo inevitavelmente trará transformação. É nesse caos que cada pessoa precisa construir sua identidade e suas relações com a comunidade, culturas e sociedade ao seu redor. A falta de completude e a frustração podem ser o fracasso dessa ideia de progresso.

A ideia de que a razão é infalível e que ela é capaz de assegurar um futuro melhor do que o passado pode tirar o próprio significado do presente, já que ele é apenas uma ponte para a verdadeira realização que virá adiante. A história concebida a partir dessa noção de tempo pode ser benéfica. Acreditar que todas as possibilidades estão no futuro, mantendo a certeza de que ele reserva o aprimoramento da raça, como expresso no conceito de civilização, acabou se revelando como um desafio arriscado, principalmente porque nesta experiência do tempo histórico o futuro nunca se realiza de fato, ele sempre é um horizonte, uma meta, que reivindicava o domínio de uma pressuposta racionalidade do processo histórico e as consequências terríveis desta transferência de sentido da existência para o futuro.

Na história da humanidade, a tragédia revela a essência do ser humano: parte natureza, parte liberdade. No início deste século, a angústia dessa dualidade se torna ainda mais intensa. Isso resulta numa experimentação trágica da história, visto que, ora na arte, ora na vida, o referencial moral que antes lhe servia está se desintegrando. Como consequência, o efeito estético esperado das tragédias poderia se tornar incompreensível. Afinal, como garantir o triunfo do ser humano? Os desafios atuais reconhecem que, nesta época, a história confronta o ser humano naquilo que é mais importante: a construção da dignidade da sua identidade.

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  1. Anônimo8/8/23 15:56

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