Gosto das coisas erradas
Das que dão prazer
E subvertem as ordens
Autoritárias
Daquelas que queimam
As fogueiras
Que queimam as Bruxas
Gosto de dançar com as Bruxas
E com elas acender
Fogueiras à luz do luar
E deitar com mendigos
E aquecer seus corpos
Sem banhos
E revelar as suas noites
Sem fim
Gosto de plantar jardins
Temperos na varanda
E cantar canções de ninar
Ter uma casa bela
Que caiba eu e ela e ele
E o mundo
E no fim
Um profundo azul
Para mergulhar
Velho Bêbado
Tua esquerda te tem
Falta-te o teu cigarro
Mas teus velhos livros
São teus balões de oxigênio
Velho ébrio
Tua solidão é licença
Para que os companheiros
Acampem na tua casa
E teu sexo termine
Sozinho no banheiro
Velho visionário
Teus gatos te bastam
Enquanto a vista encurta
E nos desvãos da noite
Acalentas
Concertos de rock’n’roll
Embriagado perdido
Teus poemas
Teus
Poemas
Não te valerão
Sobre hoje dedo na lança
Esperança posta
E cultivada
Regar o jardim
Sem arrancar as flores
Para preservar o seu olor
Fazer crescer o pão
E a paixão
Beijar na boca
E expulsar os ódios
Dedilhar mechas
De cabelos
Com o pensamento em
Vertigem
E esticar-se como um bodoque
Nas mãos do arqueiro
Por hoje
Arrumar as dores
Para que elas se acalmem
E arrancar prazer da solidão
(do livro "Poemas Embalados a Vácuo")
Pingo na retina
Retinta cor negra
Beijo de luz no breu
Dos meus desejos
Cole como se fosse
Luz
E apague-se na pele minha
Intransponível barreira
Erga-se
Se for capaz
E adentre a profundeza
Escura do meu ser
... que conduz!
(do livro "Memorando 42")