TRANSGRESSOR
Perplexo não me mexo diante do reflexo do cheiro, do tato, no ato disfarço o peso da luz que soberana sobre mim. Quero mostrar que sou mais velho, que estou ponderado, que minha lucidez transcendeu o romantismo, mas que a pragmática não me retirou os sentimentos. Ainda tenho memória e, se os fantasmas dormem, é porque estou De-ma-si-a-da-men-te acordado. Fiz um acordo comigo: entre os meus lençóis não haverá mais freio, não haverá mais receio, perdurarão meus pés atravessando o mundo.
Perplexo não me mexo diante do reflexo do cheiro, do tato, no ato disfarço o peso da luz que soberana sobre mim. Quero mostrar que sou mais velho, que estou ponderado, que minha lucidez transcendeu o romantismo, mas que a pragmática não me retirou os sentimentos. Ainda tenho memória e, se os fantasmas dormem, é porque estou De-ma-si-a-da-men-te acordado. Fiz um acordo comigo: entre os meus lençóis não haverá mais freio, não haverá mais receio, perdurarão meus pés atravessando o mundo.
CALAFRIOS
Não é porque é o amor da sua vida que tem que ser a razão do seu viver. Quem vê o sentimento se desatar feito ossos em osteoporose não entende a ruptura e põe-se a se lamentar em todos os eixos de uma vida resumida ao efêmero (mas essencial) sentir. Eu senti um calafrio e o corpo todo se contorceu como se o peito caminhasse em direção às costas. E, de repente, aquela voz suave se transformou numa gravidade às avessas... Eu passei a ignorar quem era o limite: o céu ou o chão? A solidão se recoloca. Quem sabe agora possa me encontrar, me chamar para tomar um café e restabelecer a íntima ordem dos fatos. Neste desacontecer sou tecido pelo acaso, não asseguro nada, senão uma nova fantasia.
Não é porque é o amor da sua vida que tem que ser a razão do seu viver. Quem vê o sentimento se desatar feito ossos em osteoporose não entende a ruptura e põe-se a se lamentar em todos os eixos de uma vida resumida ao efêmero (mas essencial) sentir. Eu senti um calafrio e o corpo todo se contorceu como se o peito caminhasse em direção às costas. E, de repente, aquela voz suave se transformou numa gravidade às avessas... Eu passei a ignorar quem era o limite: o céu ou o chão? A solidão se recoloca. Quem sabe agora possa me encontrar, me chamar para tomar um café e restabelecer a íntima ordem dos fatos. Neste desacontecer sou tecido pelo acaso, não asseguro nada, senão uma nova fantasia.
PORTA
Ninguém passa totalmente por uma porta entreaberta. A porta deve estar aberta, a porta deve estar fechada. Se aberta, há de por ela entrar a liberdade. Se fechada, por ela havemos de escolher uma próxima ou distante que seja, mas será outra. Assim é o amor: ou nos liberta ou nos cativa. Não há meio termo como uma porta entreaberta. E se não queremos, de fato, adentrar, não devemos nem pela fechadura observar. Quem está por trás fita os olhos de quem espreita. O amor é olho por olho, ente por ente. Ou entre ou saia.
Ninguém passa totalmente por uma porta entreaberta. A porta deve estar aberta, a porta deve estar fechada. Se aberta, há de por ela entrar a liberdade. Se fechada, por ela havemos de escolher uma próxima ou distante que seja, mas será outra. Assim é o amor: ou nos liberta ou nos cativa. Não há meio termo como uma porta entreaberta. E se não queremos, de fato, adentrar, não devemos nem pela fechadura observar. Quem está por trás fita os olhos de quem espreita. O amor é olho por olho, ente por ente. Ou entre ou saia.
Do livro (A)TEMPORAL (Ideia, 2023) disponível na Livraria do Luiz