A obra "A Alma Encantadora das Ruas" foi publicada em 1908, quando a população carioca ultrapassava pouco mais de 800 mil habitantes. João do Rio foi um dos maiores cronistas do Rio de Janeiro, ao lado de Luís Edmundo e Lima Barreto, embora fosse racista na descrição pejorativa de tipos.
Em outra obra sua "As Religiões do Rio" publicada em 1904 se vê o desprezo pelas religiões de matrizes africanas. Mas, sua obra deve ser lida por trazer minúcias dos costumes. Foi um grande jornalista investigativo, além de um pioneiro, sendo ele pardo, homossexual assumido e afeminado. A vasta cultura que o possibilitou ascender socialmente não o livrou do racismo, da gordofobia e da homofobia do Barão do Rio Branco.
Foi fundador da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, um marco em Direitos Autorais no país. "A Alma Encantadora das Ruas" chama a atenção ao abordar "onde acaba a rua", levando ao sistema prisional carioca do início de século XX, onde aproximadamente 500 pessoas se encontravam encarceradas, dentre elas adolescentes.
O perfil prisional se caracteriza pela diversidade de crimes cometidos por homens como ainda hoje, sendo mais heterogênea que os dias atuais tendo em seu cárcere também muitos homens brancos de origem pobre portuguesa e italiana. Provavelmente oriundo das brigas rotineiras do Morro do Castelo que abrigava uma população marginalizada da cidade.
Já o perfil feminino permanece igual aos dias atuais, onde a maioria era e continua composta por mulheres negras (pretas e pardas), com raras exceções na época de brancas, havendo uma homogeneidade nas práticas ilícitas apontadas contra as mulheres.
Se hoje temos um perfil de mais de 63 % da população carcerária feminina processada pela Lei de Drogas, naquele Rio do início do século XX a mendicância, a prostituição e todas as exposições causadas pela exclusão social da mulher negra e pobre as conduziam ao cárcere. Chama atenção também que naquele período já havia assistência religiosa por parte de integrantes do protestantismo e da Igreja Católica.