As alucinações são características das manifestações delirantes, podendo ocorrer tanto de forma individual quanto em grupo. Um dos seus sintomas mais intensos é o delírio religioso, que se classifica nos critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Sigmund Freud (1856 - 1939), psiquiatra e psicanalista austríaco, em seu artigo intitulado O Futuro de uma Ilusão (1927), afirmou: "A ilusão religiosa é a mais implacável e persistente, ela está ligada a um impulso e se aproxima dos delírios psiquiátricos". Essa falha psíquica pode incluir a projeção de grandiosidade,
como a crença de que a pessoa afetada foi escolhida por Deus para resolver conflitos sociais ou solucionar problemas alheios.
A psiquiatria, a psicologia e a psicanálise apresentam vários métodos para diferenciar as experiências psicóticas das vivências religiosas normais. Uma crença ou experiência religiosa não é considerada prejudicial quando a atuação profissional ou social de uma pessoa — submetida a tensões — mantém o respeito para com a dignidade do outro e busca construir a harmonia nos relacionamentos dissociativos. Uma prática religiosa se torna patológica quando expressa a ausência de sentimentos diante do sofrimento alheio. Por exemplo: expressar ódio. A pessoa psicótica, nessa hipótese, terá dificuldade em estabelecer relações de resiliências com os outros em seu ambiente social. Outra característica é prejudicar o desempenho das próprias atividades profissionais, porque apresentará outros sintomas aos problemas associados à saúde mental, como transtornos psiquiátricos, somatizações e distúrbios neurocognitivos. Esses fatores decorrem tanto de causas externas como de causas internas.
Nos cultos, os religiosos buscam alívio para as dores de suas falhas existenciais e psíquicas. Alguns deles apresentam transtornos psicóticos, que se caracterizam pela perda de conexão com a realidade e do juízo crítico, manifestando sintomas como delírios, alucinações e alterações de comportamento. O mais conhecido é a esquizofrenia, que está associado a alterações de personalidade. Outros manifestam transtorno neurocognitivo, desorganização hormonal e psicológica que leva à deterioração das atividades cognitivas como: perda de memória; dificuldade de se concentrar; desconexão dos conectivos lógicos na desorientação na linguagem verbal, manifestada pelo delirium. Nesse grupo, a doença de maior evidência é a demência.
Os religiosos de transtornos de ansiedade patológica possuem disfunções relacionadas às atividades que geram medo. Os depressivos apresentam a tristeza de forma intensa e persistente de modo a se caracterizar como o humor base daquela pessoa, de forma a perder o interesse pelas coisas mais básicas do seu dia a dia. As causas podem ser genéticas hereditárias, fatores ambientais ou fatores sociais. Noutros religiosos, a desorganização de personalidade é caracterizada por pensamentos contínuos de maneira fixa. A desordem causa estranheza diante da manifestação de comportamentos que fogem do esperado e que podem ser regidos pela suspeita e/ou impulsividade. Exemplos mais comuns são a personalidade narcisista, a personalidade antissocial e o Borderline, que é um padrão generalizado de instabilidade e hipersensibilidade nos relacionamentos interpessoais, seja na autoimagem, seja nas flutuações extremas de humor e impulsividade.
Existem critérios específicos do DSM que ajudam distinguir uma pessoa com problemas mentais religiosos de uma pessoa saudável. Em certas situações, pode ser difícil diferenciar experiências psicóticas das não psicóticas, já que há sobreposições que tornam essa distinção complexa e isso também depende da ideologia e das ideias dominantes, o que dificulta distinguir crenças religiosas culturalmente reconhecidas dos sintomas psicóticos, uma vez que delírios religiosos podem estar presentes tanto nas crenças normais de indivíduos saudáveis quanto nas crenças fantasiosas de pacientes psicóticos. Portanto, a doutrina mística pode contribuir para sintomas ou síndromes patológicas. Assim, mesmo que o indivíduo não apresente outros sintomas para o diagnóstico de esquizofrenia ou transtorno delirante, ainda é possível que ele tenha um delírio místico-religioso. A cada dia, é possível observar um número crescente de pessoas envolvendo-se em experiências religiosas delirantes em cultos. Sugere-se, portanto, um avanço nas pesquisas científicas em torno dessa patologia, tanto individuais, quanto epidêmicos, a fim de que se possa expandir novas formas de diagnósticos que venham humanizar essa doença psíquica.
Sigmund Freud descreve a religião como a obsessiva neurose universal da humanidade, culpando os dogmas religiosos pela estagnação intelectual da maioria dos seres humanos. No artigo mencionado, a religião teria sido inventada para: "Exorcizar os medos da natureza; reconciliar os homens com a crueldade do destino, especialmente aquela demonstrada pela morte; e compensá-los pelos sofrimentos e privações impostos pela vida em sociedade" (FREUD, 1996, p. 98). As consequências desses argumentos levam o ser humano a se sentir tão desamparado que, se vivesse isolado... dificilmente conseguiria sobreviver. No objetivo de superar os perigos e ameaças da natureza, os homens se uniram, multiplicaram suas forças e fundaram a cultura. Sua primeira tarefa consistiu em se proteger da natureza violenta. No entanto, a sociedade humana não consegue cumprir essa missão com sucesso. É um erro acreditar que um homem psicótico será capaz de conter sua própria brutalidade.
Um dos argumentos apresentados por Freud que fortalece a religião é a convicção na figura do Deus pai, com seus atributos de onipotência, onisciência, onipresença e benevolência, os quais são capazes de proteger o ser humano. A origem desse pensamento pode ser encontrada no sentimento de desamparo infantil e no anseio por proteção que ele provoca. Diante de sua própria impotência, é compreensível que a criança busque encontrar alguém que possa lhe garantir proteção. Inicialmente, a mãe ocupa esse papel de protetora. Para Freud, essa função é logo substituída pelo pai, que é visto como sendo mais forte. A criança idealiza o pai, mas com o tempo percebe que sua força não é tão evidente como imaginava e, ao se tornar adulta, percebe-se condenada a permanecer indefesa como uma criança. Incapaz de renunciar ao amparo desejado, o indivíduo abraça a crença na existência de Deus, a qual trará alívio ao seu sentimento de desamparo e impotência diante da vida.
Para Freud, a religião pode ser comparada a uma neurose infantil. Ele acreditava que a humanidade superaria essa fase, assim como muitas crianças superam suas neuroses ao crescerem. Em um futuro sem religião, a ciência assumiria suas funções e algumas das tarefas propostas pela religião ficariam sem alguém para assumi-las, como, por exemplo, compensar os indivíduos pelos sofrimentos da vida presente com a promessa de uma felicidade futura ou, ainda, a ideia de que o mal é punido e o bem recompensado. Para o psicanalista, os seres humanos precisam aprender a aceitar resignadamente situações da vida para as quais não existe uma cura. É necessário suportar esse mal-estar inerente à própria cultura.