Há coisa de uns quatro anos li aqui em “A União”, no Caderno 2, a inspiradíssima (como soe acontecer) crônica da lavra do acadêmico Hildeberto Barbosa Filho: “Outras vidas”. Se as tivesse, nosso ilustre cronista aventara para elas algumas possibilidades que a presente existência não lhe obsequiou. Quem nunca sonhou para si um cenário de sortilégios? Eu sonhei e não poucas vezes.
Então caros leitores e leitoras, aproveitando o ensejo que aquele texto me suscitou, permitam-me neste cantinho de jornal, rogar ao Senhor misericordioso, que se me puser outra vez neste planeta depois daquela partida, supostamente definitiva, que o faça de forma mais generosa. Minha luta aqui não tem sido fácil. Dei um duro danado, trabalhei como um cativo e não enriquei. Dizer que fui infeliz, seria uma leviandade, mas as coisas por aqui poderiam ter sido melhores. Mais fáceis. Fica; pois, meu pedido para uma nova chance, uma outra vida. Se o Senhor me der essa generosa oportunidade, que seja ela menos difícil de se levar. Então, caso aceite meu rogo, uns pedidos Vamos lá.
Esse meu espírito, quero-o protegido por uma carcaça esteticamente melhorada, não esse meu corpanzil que tem o formato de uma pamonha amarrada. Pensei em algo assim como aquele que Alain Delon usava quando mocetão. Lembram-se dele quando jovem? Meninas, se nunca ouviram falar, procurem na internet. Quero numa próxima vida ser bonito daquele jeito. Mas de nada adiantaria se seu viesse novamente com essa voz de taquara rachada que tenho. Iria merecer uma voz como a do Nélson Gonçalves. Já imaginaram? Corpo de Alain Delon e voz de Nelson Gonçalves? Teria começado bem ou não teria? Mas essa voz só para cantar. Falar de jeito nenhum, pois Nélson era gago e na hora de conversar eu iria preferir a de Cid Moreira. Bonito, com voz causar arrepios num sussurro pé-de-ouvido e cantando bem, precisaria ser um “virtuose” n’algum instrumento musical. Pode ser o violão. Aí quero ter a habilidade do Toquinho para tocar bem como aquele danado. Bem, corpo resolvido, voz da melhor qualidade, perito nas seis cordas, tudo isso poderia ser de pouca utilidade se eu aparecesse novamente aqui sem uma pataca no bolso. Não precisaria ser muito rico, bastaria para mim uma conta bancária como a daquele rapaz, o Bill, sim o Gates. Isso me bastaria, pois não sou hoje e nem quero numa próxima vida ser ganancioso. Mas que essa bagatela viesse por direito de herança, nada de trabalho.
Já fiz minha parte nessa passagem por aqui. Esclareço que essa modesta poupança teria a finalidade de suprir minhas básicas necessidades, nada mais. Por falar em necessidades básicas, vou necessitar de um barquinho para algumas aventuras, afinal, ninguém é de ferro. Pode ser como aquela modesta embarcação de 115 pés que tinha o Eike Batista e que acabou indo (ou ainda vai) a hasta pública. Um giro pelo mar Egeu no verão lá da Europa, iria certamente apreciar. Fico me imaginando, indo à proa para receber os bafejos matinais das brisas gregas e meu garçom (tem que ser um anão) me servindo em taça de cristal o champanhe “Dom Perignon Charles & Diana 1961” comprado à mixaria de duas mil e quinhentas libras esterlinas a garrafa. Mereço ou não mereço?
Carro, podia ser, vejamos, qualquer um daqueles 764 exemplares saídos da fábrica de Sant’Agata Bolognese, e que custam hoje algo em torno de um milhão de euros. Isso mesmo um Lamborghini Miúra, para ao final da tarde de domingo, sair de minha pequena propriedade de vinte cômodos na Praia de Coqueirinho (não abro mão, quero morar aqui!) para dar um rolé, ali nas avenidas da praia de Tambaú e Cabo Branco e então, matar a “mundiça” de inveja.
Assim eu, caro Hildeberto, além desses pequenos agrados, também gostaria de ter o dom de escrever umas coisinhas para publicar: um ou mais romances como os de Dostoievski. Só não preciso viver com os credores à minha porta como ele viveu. Nada de sofrimento. Como mostrei, só quero ser melhor apessoado, escrever umas bobagenzinhas e ter o suficiente para atender minhas necessidades mais imediatas.
Só isso, meu amigo.