“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”
(Vinícius de Moraes)
(Vinícius de Moraes)
No corre-corre da cidade, as opções são tantas e nenhuma. As pessoas parecem até perdidas sem saber para onde ir, o que fazer, com quem fazer. Encontros que poderiam levar a um caminhar juntos, terminam sem dar em nada. Antes, tudo era mais linear, até sem graça o rumo era certo. Hoje, nada é certo, até as profissões que se escolhem, logo deixam de ser importantes. A inteligência artificial substituindo o humano nas mais diversas funções. No amor, sim o amor é tão efêmero como as profissões, casar, ter uma família, filhos, saiu para fora da linha, não é mais uma certeza — ainda bem, assim muitos tabus foram quebrados. Tudo é permitido, nada é obrigado e certo. Obrigada às mulheres que tanto lutaram para chegarmos onde chegamos.
Voltando à arte da vida, ao encontro entre pessoas, agora deveria ser até mais fácil, ampliaram as ofertas, mas parece que também ampliaram os desencontros. O que fazer com o amor e com a arte do encontro? Cadê a magia do inesperado, do inusitado, do esbarrar numa pessoa e minutos depois ter a sensação de que encontrou quem procurava a tempos? Mesmo que dure pouco, ou quase nada, só por acontecer, já vale a pena para a vida toda, “eterno enquanto dure”.
E são muitos desencontros e com eles os poetas apaixonados e sofridos fazem versos, embalam corações, ou embalaram, pois não é que a sofrência tomou conta dos corações. Parece que se sofre só para viver os minutos que a letra da música diz, apenas para fazer parte do sofrer efêmero e coletivo. O importante é gritar no gargarejo do show para ter um segundo de atenção e sair bem na selfie. Depois não “se sabe” por que pessoas de todas as idades estão com vazio existencial, deprimidos.
Hoje é mais importante ser instagramável do que ser sensível à dor do outro, ser amável, dar atenção, receber carinho e cuidados. Saiu de moda, não dá "joinha", é ultrapassado, quase ultraprocessado. A vida real não tem mais graça.
Em quem nos transformamos! Para que corremos tanto sem parar para viver? Tudo virou passageiros desse grande trem desgovernado que se transformou a massa humana em busca de ganhos materiais, de exposições fictícias. Cadê a poesia do pé de Cafuçu de Cláudio Paiva? Cadê o bucólico entardecer na Ponta do Seixas de Cátia de França? Só nos resta cantar com Chico César:
Deus me proteja de mim
E da maldade de gente boa
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde
Ilumine e zele assim
...
Caminho se conhece andando
Então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando
Vai só procurando
E acha sem saber
Perigo é se encontrar perdido
Deixar sem ter sido
Não olhar, não ver
Bom mesmo é ter sexto sentido
Sair distraído espalhar bem-querer...
Precisamos espalhar mais bem-querer, olhar de verdade para dentro de nós e do outro, somos natureza agonizando, queimando, uma espécie em violenta extinção, assim como tantas outras que por aqui passaram. Apesar de tudo, ainda temos o sol brilhando todos os dias, o esplendor do luar, a beleza do mar, das árvores, dos pássaros, das montanhas e cachoeiras, da floresta viva. Ainda temos a beleza da vida que pulsa. O pulso ainda pulsa na canção do Titãs!