Devo a Aracilba Rocha um dos supremos instantes de vida. Isto porque foi ela, como dirigente municipal do PMDB, quem me assegurou a companhia da figura consular de Ulisses Guimarães, durante um dia inteiro de atividades culturais pela cidade.
No exercício do Fórum Universitário do UNIPÊ, empenhei-me a fundo pela iniciativa. O problema é que Aracilba era tão ocupada que, às primeiras horas da manhã, tive de invadir seu quarto de dormir, para confirmação do intento.
No exercício do Fórum Universitário do UNIPÊ, empenhei-me a fundo pela iniciativa. O problema é que Aracilba era tão ocupada que, às primeiras horas da manhã, tive de invadir seu quarto de dormir, para confirmação do intento.
Esta uma das razões pelas quais consultei com alegria o seu “Sem trégua” – um legado de ensinamentos de como sobreviver à pobreza e à vida profissional no meio político (2022). O outro motivo de alegria reside em sua militância a ala feminina do (P)MDB de Sônia Germano, Vera Lucena, Isa Arroxelas, Emília Correia e algumas outras, na residência do arbítrio de 64.
Foi então que nos encontramos. Ela, pelo esquema de Humberto Lucena. Eu, pelo Grupo José Honório Rodrigues, heterodoxo como a própria.
“Sem trégua” não traiu essas expectativas, por constituir autobiografia que deve ser lida por todos. Pena é que a autora abusa dos pseudônimos, a ponto de lhe indagar: quem é Julius? Resposta imediata: “meu subconsciente.”
Quanto à Aruã, trata-se da terra natal de Aracilba, de onde, moça pobre, partiu para seu destino, tecido com dificuldades. Já Colinas é a Paraíba em que, diplomada em Engenharia, construiu a trajetória.
Aos dezesseis anos, essa principiou pelos tumultos estudantis de 1968, em que se engajou, sendo conduzida à DOPS. Enfrentou, então, horas amargas, de que se livrou graças ao delegado de plantão, correto e justo.
A partir daí esta última não parou mais. Percorrendo carreira profissional e política, ocupou cargos administrativos e partidários, sempre com firmeza e no (P)MDB. Na assessoria do partido, acompanhou a morte de Tancredo e a passagem de Burity para a oposição e o governo do Estado.
Pela leitura de “Sem Trégua”, percebe-se, porém, que o ponto alto da autora residiu na campanha governamental de Antônio Mariz, apoiada pelas esquerdas em 1982. Democrata, sonhada, todavia, compreender a derrota marizista para o populismo de Wilson Braga.
Dirigente partidária de peso, ao ponto de, juntamente com Humberto, acompanhar Ulisses quando este aqui esteve em campanha para a presidência da República, em 1989, Aracilba aproveitou a autobiografia para proveitosas reflexões.
A crítica à burocracia da página 93 e seguintes torna-se uma delas, assim como, no tocante à administração, “as obras inacabadas ou destruídas por falta de conclusão”, no capítulo sobre “Mudanças repentinas”. Da mesma forma, “os gastos de campanha” da página 132 avultamos com o obstáculo à melhor formação de nossos quadros políticos. E é claro que os santinhos da 134 não corrigirão isso.
A rapidez destas notas não me impede considerar algumas passagens de “Sem Trégua” como proverbiais. Tal como a que se segue:
“Atualmente os governantes são eleitos para administrar as folhas de pagamento de pessoal. A cada dia, estados e municípios estão mais inchados de pessoal. Os funcionários se tornam insaciáveis por maiores salários, sem se perguntar de onde vem os recursos para o seu pagamento. Essa rubrica orçamentária compromete, em média, 70% de toda receita, isto na União, nos Estados e municípios (págs. 103/104).
Por tudo isso, Aracilba Rocha não produziu apenas roteiro de vida. Ela concedeu lição de Ciência Política, com a autoridade de quem transitou da engenharia para a militância político-partidária, sempre com elegância e discernimento.