Quinze anos da existência contínua, cada vez mais intensa e significativa do Ambiente de Leitura Carlos Romero, na cena cultural de nossa cidade. Com justiça, o Grupo Pôr do Sol das Letras se antecipa a todas as instituições culturais para comemorar essa vitoriosa conquista de uma iniciativa que acrescentou e transformou as possibilidades de publicação do escritor paraibano. Ao mesmo tempo em que atraiu um qualificado público de leitores que encontram, nessa revista eletrônica, uma resposta semanal para seus interesses literários.
Germano e Davi cuidam da editoração dos textos, com tanto carinho e competência, que, a cada dia, nos surpreendemos com a propriedade e a beleza dos recursos de que se utilizam. Nosso querido José Mário Espínola, colaborador do Blog ALCR, costuma chamá-los de “monges iluministas”, para salientar o desprendimento e perfeccionismo do trabalho a que se dedicam.
É um projeto movido pelo amor, pela necessidade de fazer nosso Carlos Romero sempre presente, como escritor e ser humano inspirador, que ele foi, em sua pródiga e longa permanência nesse mundo.
Posso imaginar a alegria e o entusiasmo de Carlos, contemplando essa convergência de escritores e leitores, em torno de seu nome, e dos valores culturais e humanísticos que ele representa. Valores aos quais dedicou toda a energia de sua existência.
Desde que conheci Carlos e Alaurinda, fiquei encantada com aquele casal que parecia saído das páginas de um romance. Ele, tão elegante e de proceder tão refinado, trazia sempre no rosto uma expressão de bem aventurança. Ela tão linda e delicada, parecia surgida de tempos imemoriais, resgatada por algum condão mágico, para cumprir um desígnio anunciado. O amor e a cumplicidade entre os dois tinha uma aura de felicidade incomum, que transparecia na doçura do menor gesto ou do mais simples olhar.
A partir de memoráveis encontros em solenidades culturais e na convivência acadêmica, nos aproximamos. Os dois me dedicaram sempre, um tratamento tão diferenciado que meu encantamento se fez amizade para sempre. Hoje, Germano e Carlos Filho são a projeção dessa história.
Resisti muito ao convite de Germano. Mas, para honrar esse laço de afeto, aqui estou.
Germano foi imbatível em seus argumentos, e tive que fazer da fraqueza força, para atender a esse menino que, hoje, faz parte do meu dia a dia e, com seu modo especial de ser, com sua visão de mundo tão particular, transforma em necessidade vital nossa comunicação cotidiana.
É impossível não referir e realçar o amor incomparável que reuniu Germano e Carlos, nesse mundo de Deus. Desconheço outro exemplo de amor filial em tal dimensão.
O ALCR é a continuidade desse amor que se multiplica e se renova a cada dia no milagre da Palavra, “esse dom divino” que o grande José Alencar classificou, como “a mais sublime expressão da Natureza”.
Era ainda muito jovem, quando li essa formulação pela primeira vez e descobri, com espanto, que nós, humanos, somos também Natureza como as estrelas, as flores, as avezinhas do céu e tudo mais no Universo. E que a Palavra tem o poder de nos elevar acima de toda a beleza, de toda a grandeza porque, em sua simbologia, exprime nossa consciência e nosso espírito, convertendo-se na morada do Ser.
Os escritores, em sua paixão pela Palavra, vivem essa verdade. Lembro o poeta Vanildo de Brito que sintetizou, em dois versos desafiadores, esse poder.
“Se a palavra se cala
O Universo desaba.”
Em sua meditação sobre um poema antigo, o nicaraguense Pablo Antonio Cuadra resume, em três indagações, esse lugar soberano que a natureza humana ocupa no Universo:
Perguntou a flor: o aroma
acaso me sobreviverá?
Perguntou a lua: alguma
luz guardo depois de morrer?
Mas o homem disse: por que acabo
e fica entre vós o meu canto?
Estabelecendo as hierarquias verdadeiras, o poeta nos ensina que a imensidão, o mais intenso esplendor, nada se sobrepõe, nada se compara ao milagre da consciência; à dignidade de pensar; à transcendência do espírito; à consciência moral que escolhe como referência a infinitude do céu estrelado; à arquitetura da linguagem que estrutura o significado e a permanência do ser.
Na perspectiva em que me coloco, o Blog ALCR se transfigura. Vai muito além de um recurso tecnológico contemporâneo, de publicação e divulgação de textos.
O nome de Carlos Romero faz desse Ambiente de Leitura um reino. Um reino iluminado, um reino da criação literária. Compatível com a nobreza de espírito que Carlos cultivou até o fim, como seu melhor e mais admirável atributo.