Que tipo de guerra pode ser doce, em que a munição se transforma num imenso lago vermelho, quase sangrento, espalhado pelas ruas de uma cidade, e toda população se pinta da cor de sangue, com tamanha intensidade com que se espalha como a tinta das balas?
Pois é com esse modelo de violência que os moradores de Buñol, na província de Valência, morrem de rir, de se divertir e de cansaço. O nome dessa guerra é "A Tomatina", uma das festas tradicionais que mais atraem turistas à Espanha. Todos os anos, multidões se banham na rua, tomada de vermelhos tomates maduros e esmagados. Uma bela confusão lambuzada que acontece na última quarta-feira de agosto.
Quando se vão as estradas, mesmo na falsa guerra dos dias mais viajados por todos, as terras coloridas por um Deus nos vigiam com olhos carinhosos. E um semblante sempre atento, de abraço apertado, torce para nos fazer felizes e prósperos.
"O grande desejo de um coração inquieto é possuir interminavelmente o ser que ama e poder mergulhar esse ser, quando chega o tempo da ausência, num sono sem sonhos que só possa acabar no dia do reencontro"
Albert Camus
Albert Camus
Essa inquietude, que é fonte de nossos atos, nos torna razão e resultado do tempo que dedicamos às escolhas nas quais os sentimentos extraem seu absoluto, da miséria das glândulas salivares, bem antes do encontro com a morte. É como a história contada no livro "A menina que roubava livros", em que uma garota encontra a morte três vezes no período de 1939 a 1943, na Alemanha nazista.
A menina Liesel Meminger se dedica a roubar livros, desde a primeira oportunidade no enterro de seu irmão, quando ficou com um exemplar do coveiro, sem que ele soubesse. O Manual do Coveiro, caído na neve, é seu primeiro encontro literário durante a guerra, com sangue real. Suas aventuras na busca de histórias de outras almas depositadas em papel tornam a ela e seu amigo Rudy duas crianças livres em meio ao caos de uma devastação sem precedentes.
Nas fogueiras de livros que Hiltler mandou exterminar, Liesel rouba e esconde um exemplar ainda quente em suas vestes acolhedoras. A história termina com a morte narrando como a garota viveu e construiu sua própria família, e como a amizade com Max, um Judeu que ela ajudou esconder, tinha sido quase tão longa como sua vida.
A desesperança, por vezes, ronda nossos olhares, que de tanto soprar nos parece ser a próxima verdade que açoita. Não existe um preparo para escolher o tema de uma prosa vencedora. A vida mostra o que tem e quando será possível.
Qual o tamanho de seu esforço? Parecido com um sonho, ou mais próximo ao sossego do medo?
O teatro está ao ar livre, assim como seus desejos a seus pés. Se a mistura surtir algum efeito, aperte e pegue o possível para aprender a dar um laço em seus planos, furtados como a água da fonte na praça.