LIVRO NEGRO
(Do canto obscuro a beira do mito, percorre-se o possível.) Medusa, Sangre minha língua, Recubra de vida a hóstia - alento do passado. Musa, surpreenda o que no sossego dos dias tingidos, simplesmente - ignora. Ruína, desabe com as casas mortas. Sertão, rege a cisma no terço e aboio dos de minha carne. Cedro, desfaça a nave fenícia e entorne o vinho sobre as águas. Poesia, transforme em ruído o som da espera. Palavra, seja o orvalho de minha passagem. Madrugada, resgata o aceno do tempo em meio a névoa . Eternidade, Estende sobre as asas a poeira das estrelas. Solidão, não ignore a oferta do corpo que a procura de ti, salta.
(Do canto obscuro a beira do mito, percorre-se o possível.) Medusa, Sangre minha língua, Recubra de vida a hóstia - alento do passado. Musa, surpreenda o que no sossego dos dias tingidos, simplesmente - ignora. Ruína, desabe com as casas mortas. Sertão, rege a cisma no terço e aboio dos de minha carne. Cedro, desfaça a nave fenícia e entorne o vinho sobre as águas. Poesia, transforme em ruído o som da espera. Palavra, seja o orvalho de minha passagem. Madrugada, resgata o aceno do tempo em meio a névoa . Eternidade, Estende sobre as asas a poeira das estrelas. Solidão, não ignore a oferta do corpo que a procura de ti, salta.
PERTENCIMENTO
Eu, que atentei contra as lendas, devo participar calado da ceia dos ausentes. (O brilho do dia nada sabe sobre o vazio que se desprende nas asas sem destino, dos trocadilhos dos fartos, da soberba que ofusca no horizonte o templo dos desesperados, do pânico dos ascensoristas buscando um andar que caiba o homem.) Não me pertence o celibato dos anjos sem memória mas sim a profusão de porquês inúteis: Cabe vestígios de sombra no infinito do mar? O que importa da origem das pedras se elas tem beleza e o cheiro da resignação? A insistência do poema é uma exigência ou privação de ar? Este abafamento que resta é o desmedido do inconsciente ou arrependimento de não ser?
Eu, que atentei contra as lendas, devo participar calado da ceia dos ausentes. (O brilho do dia nada sabe sobre o vazio que se desprende nas asas sem destino, dos trocadilhos dos fartos, da soberba que ofusca no horizonte o templo dos desesperados, do pânico dos ascensoristas buscando um andar que caiba o homem.) Não me pertence o celibato dos anjos sem memória mas sim a profusão de porquês inúteis: Cabe vestígios de sombra no infinito do mar? O que importa da origem das pedras se elas tem beleza e o cheiro da resignação? A insistência do poema é uma exigência ou privação de ar? Este abafamento que resta é o desmedido do inconsciente ou arrependimento de não ser?
PLANÍCIE
Glória é uma palavra
esvaziada de sentido,
e me chega no poema,
em forma de despedida.
Dentro de mim
tudo se aplaina
e em breve,
não mais sairei à guerra.
(A pedra tardia
jaz na funda
─ injustificável.)
Dentro de mim,
fez-se vazia
a rebelião dos anjos
de longas adagas.
Dentro de mim,
a cicatriz transparente
abriu sua boca para a noite
e vomitou a culpa.
Dentro de mim
um estampido
perfurou a cova
e despertou as raízes.
Dentro de mim
um todo imenso
viu-se areia.
Dentro de mim
o pai do Mundo
me chamou de filho
e eu o chamei de Terra.
Dentro de mim
o espasmo
da semente grávida.
estendida sobre o lençol branco.
Dentro de mim
o orvalho fez soçobrar
o medo e despertar a hera onde a pá de cal
sufocava os cristais dos ossos.