Palavras por todos os cantos

Olho pelos cantos e reencontro palavras únicas e juntas. Soltas, aleatórias, desencontradas pelo ambiente. Para olhares desatentos são insignificantes, mesmo desinteressantes. Da estante à mesinha do computador, soltas na cama e mesmo dependuradas nas paredes. Para o colecionador de letras cada uma tem sentido, até sentimentos, todas uma temporalidade.

A vista percorre o “Eu”, esbarra em “O Incêndio”, encontra “O Sequestro da Independência” de cabeça para baixo, tem “Crime e Castigo”, brotam confissões da vivência poética da vida de Neruda. Há Santos próprio e o amor pelo voo, a creatina de vermelho chamativo, um Arno de incansável circulação e uma Nova envelopada que promete exame preciso. São palavras díspares.

E dos tempos também existem exemplos: “1942” simbólico e “Berlim 1945” de tragédias. Outras palavras pipocam no passear visual: vento, rastro, notícia, impacto, ponto, elite, martírio, estrela, turísticos, anos. Na maior parte do tempo, as palavras têm como companheiro o silêncio. “Não sei, só sei que foi assim” também está por ali em referência ao mestre Ariano. E lê a dualidade do “sem cuscuz” e do “com cuscuz” e os humores possíveis.

Alertados pela coleção de termos naquele espaço, os olhos caçam palavras. É mais que um coquetel, tem caras, há A União, chama atenção. Por ali está o analógico “Aurélio” e toda precisão da necessidade de ser compreendido. Uns enfileirados, outros sobrepujados, títulos. Além dos olhos, os leio também com as mãos.

Jaci XIV

Anti, cristal, cabeça, troféu, vento, futebol, auto, Normaii, sangue, Medix... É um cerco “dicionárico” que reclama leituras, atenções. Elas surgem em inglês... Protect, black, men, Arctic Ocean, battlefield, puzzle... Entendo, mesmo sem saber as regras do falar estrangeiro. Confesso, nesse caso fiz pouco esforço, pois sempre preferi o francês, mesmo permitindo ao tempo empoeirar toutes les paroles.

Frases, palavras sós, em duplas, trios. Das camisetas surgem os acordes de uma estação, pois “tu vens, eu já escuto os teus sinais” é Anunciação do Valença. Como o pedido do Chico paraibano para que “Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa”. E fica o recado em “nordestinês” porque “não troco o meu oxente pelo ok de ninguém”.

Do outro lado, próximo ao corredor, medalhas de um corredor amador como a pomposa maratona, outra que reúne estações, circuito, todas de participação. Vitórias pessoais sobre o próprio tempo. Superar a si mesmo é vitória.

Clóvis Roberto (Maratona de João Pessoa) Acervo do autor

Palavras brotam das imagens. Um peixinho nada num azul improvável, em outro azul bailam pássaros mágicos, o casal faz menção simpática aos reis do cangaço e a menina observa desconfiada sob a proteção das pernas paternas. Há um grande mapa para navegantes perdidos por mares cheios de naus, monstros e nós náuticos.

As palavras exalam até cheiros suaves, protagonizam cenários, enfeitam e deleitam prazeres. Ao redor, resumo de vidas, amores, intrigas, aventuras, malícias. Por sorte, por afinidade, há palavras em toda parte.

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