A cidade cresce, se descaracteriza, fica cinza. Os faróis dos carros só são belos nas fotos noturnas com longa exposição do diafragma ...

O vai-e-vem da esperança

crianca esperanca morro inocencia favela
A cidade cresce, se descaracteriza, fica cinza. Os faróis dos carros só são belos nas fotos noturnas com longa exposição do diafragma – se disfarçam em fachos luminosos. Os indivíduos não se apercebem, é massa disforme à espera do sinal verde que chega e parte sem que eles saiam do lugar.

Sou mais um, mas insisto em olhar em volta, pro lado, ser chamado de desatento, esbarrar nas calçadas. Não me arrependo. E foi por ser assim que olhei para cima. No morro, um mundaréu de casas, tão juntas como uma corda de caranguejos postos à venda nas calçadas – cinzas e sufocadas.

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Fui olhando cada vez mais alto, e na iminência do azul, em uma imprevista descontinuidade entre as casas, eu vi balangando uma criança alada.

Ela estava lá, com seu balanço, alheia aos casuísmos, estatísticas, caos, fatalidades... Indo e vindo sobre as malfadadas casas.

Pêndulo de minha vida! Chuta pro alto, com seus pés meu desassosego!

Um beijo criança... Mil beijos! Estremece o Morro; seja o centro gravitacional de seu Universo; desmente nesse segundo as verdades do Absoluto!

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Abriu o sinal...

Despeço-me da criança, pois tardar não posso (podia ser um pouco pior o trânsito em minha cidade).

Ao menos agora sei que naquele sinal existe a árvore com seu balanço. Sei que ali encontrarei, quem sabe outra vez, alguma criança a pincelar de verde um sinal de esperança para os que tentarem vislumbrar o céu.

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