Os interesses partidários de sua comunidade envolvem a todos que andam às escuras e cobrem de força os que gritam e agitam suas bandeiras coloridas, com nomes e símbolos de luta. Nesse transe, periódico para alguns, a cegueira é a dor carregada pelos fiéis seguidores das ideias plantadas em suas mentes.
Como escreveu Georgi Vladimov, em seu livro "Fiel Ruslan", o crente político foi abatido no bosque.
Na União Soviética de Kruschev os crimes do camarada Josef Stalin foram denunciados, e o país libertou 8 milhões de prisioneiros do "gulag" (sistema de campo de concentração com presos políticos).
Certo dia, o cão Ruslan encontra o campo silencioso e vazio. Logo pensa que os prisioneiros fugiram e sente que deve iniciar uma caçada aos fugitivos. Mas seu dono, um dos guardas, está resignado e agindo como se tudo estivesse normal. Ruslan não entende esse novo clima, porque ele é um cão fiel às suas crenças e incapaz de aceitar o novo momento, que todos mudaram ao retirarem a mordaça do prisioneiro. Ele se recusa aceitar a mudança, e também rejeita a ideia de que passará a ser irrelevante agora no novo sistema.
Nesse entusiasmo político, é clara a lição gélida aos seguidores caninos de qualquer líder oportunista. Enquanto os latidos e violentas atitudes não são mais úteis, resta ao cão uma vida de vira-lata.
O risco de pegar uma carona com estranhos é o mesmo perigo que corremos quando abandonamos nossas ideias e entregamos a responsabilidade de nossas vidas coletivas a um líder que manda caçar e morder.
A experiência pode ser muito arriscada, como foi a viagem de avião de uma certa Paula, durante a guerra de 1914-18. Ela decidiu entrar escondida num avião de guerra nos arredores de Berlim, porque acreditava que não havia risco nenhum. Porém, o avião não estava abandonado, e rumou para Moscou. A passageira somente foi descoberta pela tripulação quando estava muito longe de casa. Ainda com seus 13 anos apenas, chegando ao destino, foi recebida como pessoa perdida de guerra, e entregue a uma família de agricultores no interior da Rússia.
Sem entender a língua e os hábitos diferentes dos seus, Paula não imaginava como deixar aquele país, façanha que conseguiu realizar somente 3 anos após essa desventura estranha, longa e perigosa, para uma inocente que se atira sem pensar às novidades que lhe cruzam os olhos, parecendo ser o caminho para sair voando de onde está, aparentemente em uma condição ruim.
O nascimento de uma criança traz a esperança que tanto pais e familiares esperavam em seu entorno saudável, feliz e com muita saúde, em uma vida nova com rumo aberto às desventuras de suas escolhas.
A coragem de chegar à vida aqui fora nos concedeu a possibilidade em seguir com nossas escolhas, e brotar, crescer, decidir novos rumos que despertaram na sua concepção. Mas a melhor escolha é a mãe do juízo, por isso, prepare-se pra ser o próximo piloto de sua existência.