Não sei se posso dizer que é uma sigla: LPC. Mas, garanto que são as iniciais de uma criatura da melhor qualidade e que em junho passado completou suas oitenta primaveras. Filho do seu Francisco Honorato, o Bem Costa, virtuose do violão (um renomado seresteiro em São José dos Campos) e se Dona Virgínia Vou aqui tomar algumas linhas deste nosso renomado rotativo para algumas considerações sobre essa figura pela qual sempre nutri indisfarçável admiração, o Luiz Paulo Costa.
Este escrevinhador aqui, mal completara seu segundo ano de vida e Luiz Paulo, já brilhava como atacante do brioso Palmeirinha, time da garotada que vivia no entorno da Rua Antônio Saes lá na já mencionada cidade do Vale do Paraíba, interior de São Paulo.
Como todo adolescente tem sua turma, a dele era a da rapaziada que frequentava a Praça João Mendes, ou mais conhecida com Jardim do Sapo. Depois do grupo escolar e passar no temeroso Exame de Admissão, Luiz Paulo foi fazer ginásio no João Cursino, que à época dele e à minha funcionava numa requintada edificação localizada na Praça Afonso Pena.
Em sua época de meninote, recomendava-se fazer um curso de datilografia para anos à frente encarrar o mercado de trabalho onde a maioria das colocações estava no serviço burocrático. É o que esse meu amigo fez e ainda rapazinho já estava trabalhando no CTA (Centro Técnico de Aeronáutica) quando já terminara o que hoje chamamos de Ensino Médio. Foi alçado à posição de redator no Departamento de Relações Públicas daquela base aérea. Era também o responsável pela cobertura das atividades do CASD (Centro Acadêmico Santos Dumont) entidade representativa dos alunos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o ITA.
Isso, meus caros, minhas caras, é um breve resumo do trajetória de Luiz Paulo até chegarmos ao fatídico ano de 1964 quando os coturnos resolveram pisotear nossos jardins. No fatídico 31 de março um telefonema grampeado de LPC para um aluno do ITA seria motivo de muitos aborrecimentos. O ambiente de hostilidade que ocorria na cidade, como a queima de bancas de jornais, a prisão de vários alunos daquele Instituto fez Luiz Paulo dar um tempo na capital paulista. Ao regressar dias depois percebeu que fora afastado de suas funções e acabou sendo preso numa epopeia entre a base aérea de Cumbica e um navio fundeado da costa santista, o Raul Soares.
Este foi o começo do rol de perseguições que este cidadão sofreu enquanto perdurou essa mancha negra em nossa história, o Regime Militar.
Luiz Paulo, foi e continua sendo um político na mais digna acepção da palavra. Combateu o bom combate e nunca permitiu o mal feito com a coisa pública. Foi vereador por 4 legislaturas e na de 1976 a 1982 (6 anos para ajustar o calendário eleitoral) fui suplente pelo MBD e tive a oportunidade de exercer a vereança em diversas oportunidades. Foi quando conheci melhor esse meu amigo. Jornalista da melhor cepa foi correspondente do Estadão em São José. Embora fosse um progressista, um liberal, jamais militou em uma organização de esquerda, muito menos no Partido Comunista.
Enfrentava os oponentes com a força de sua razão e de seus argumentos. Era um espectro pavoroso para os políticos das oportunidades, dos casuísmos. Usou até a lei da fidelidade partidária (um instrumento da ditadura) para afastar correligionários da oposição que faziam acertos nas penumbras da noite com o alcaide local.
Teria esse meu amigo tudo para desistir, mas não era galho de se envergar, até que numa noite de outubro de 1975, a perua Veraneio do DOI-CODI estacionou em frente sua casa e o levaram para o mais tenebroso dos porões da ditadura. Já na primeira noite teve início a tortura. Queriam que ele confessasse o inconfessável. Quem o teria recrutado para o Partido Comunista? Como não havia o que dizer o interrogador avisou: “Já que você não quer falar por bem, vai ser pior para você”. E como foi. Nisso os algozes tinham razão. Foi levado à tal de “cadeira do dragão”. Ali foi torturado com choques pelo corpo, inclusive nos genitais. Não faltaram socos que lhe quebraram dentes e a covarde sevícia cobriu todo o seu corpo.
O tempo que passou sendo torturado, e o que aconteceu daria toda uma edição desta gazeta. Luiz Paulo iria logo morrer, continuassem os abusos. Mas a morte de outro lhe salvou a vida: Wladimir Herzog. Foi uma morte que cobriu o país de indignação. Então, lá no Estadão, um dos Mesquitas liga para o Ministro da “Justiça”, Armando falcão avisando que se mais um jornalista fosse morto o jornal iria denunciar. Aquele telefonema, salvou LPC que ficou internado vários meses, mas em 1976 estávamos juntos nos palanques para a eleição municipal.
Domingo, 16 de julho, à porta do Parque Vicentina Aranha em São José, eu filho, nora e neto encontramos Luiz Paulo, sentado à uma mesinha, vendendo seus livros. Abracei esse meu amigo, compramos seus livros e saí dali pensando... Como faltam homens como Luiz Paulo Costa neste país.