Maquiada a capricho, os cabelos vastos arrumados, soltos, em ondas bem acentuadas, livres. O olhar voltado para o verde aguardado. Um verde que poderia tomar outra tonalidade, dependendo da coloração do diálogo previsto, da confirmação do enlace previsto.
Ela mordiscava as unhas compridas, nervosa, deixara cair o estojo de apetrechos que lhe pertencia. Todos acorreram, ela se abaixara, apanhara um volume, embrulho guarnecido por um papel feminino, talvez um presente para a pessoa importante aguardada. Ou não. Somente ela sabia. Foi no cartão de crédito, numa loja de produtos masculinos, pelo que se pensa, um isqueiro e um cachimbo importados. Um vidro de perfume, não. Ele não tolerava nenhum, nem as lavandas mais sutis, de aromas leves. Deveria ser uma camisa? Quem poderia saber se o pacote prateado escondia o objeto a ser presenteado? Tolice ficar arriscando, mesmo porque os viajantes davam mais atenção ao ônibus em que embarcaria.
Destinos. A demora já arrancava suspiros da moça que aguardava o quase noivo. Namoro bem firme, ele bem de vida, criador de gado. Segurava o humor para não desabar em choro. Seria ignorado pelos que estavam com ela à espera.
Enfim, o expresso estacionou na rodoviária. Ela somente olhos ansiosos para a escada de desembarque. Ele desceu enigmático, um semblante fechado e esboçou tímida alegria, muito formal que a deixou hesitante. Por quê? Quando ele a enlaçou pela cintura, foi tocado por alguém, às costas. Ao virar-se desabou tudo. Era uma mulher tensa, raivosa, fumegante. A noiva ficou sem saber como agir. Entregou o presente ao pretenso futuro marido. A estranha, muito endurecida em seu rancor, estraçalhou o pacote e sacudiu a gravata ao chão, pisoteando-a.
A moça caiu em pranto convulso, enquanto a recém-chegada cobrava do também namorado a atenção devida. Ele saiu plataforma afora, sem destino, um sonâmbulo sem lenço, sem documento, sem rumo. Ambas as namoradas ficaram paralisadas, vendo o homem de suas vidas diminuir, à distância. Ele não gostava de nenhuma das duas. Um farsante, a brincar com os sentimentos alheios. Um crápula rico, vistoso, de baixo caráter, se é que o tinha.
Sequer elas se olharam. A noiva apanhou a gravata, guardou-a na bolsa e saiu a se assoar, pálida pelo susto, pelo inesperado. A outra acendeu um cigarro, tomou direção contrária, vitoriosa. O homem que se fora era um perfeito namorado para ambas. Ele jamais pensaria em casar-se com ninguém. Nem com uma, nem com outra. Um farsante vivo.
Foi quando o verde se tornou negro, profundamente escuro qual um túnel.