A mente viaja solta pelos profundos oceanos dos tempos idos e das lembranças. Consigo escutar o colocar da ficha telefônica em contato com o ferro da base do orelhão. Os dedos giram no disco catando os números do telefone a ser discado. Do outro lado da linha o som da chamada, ficha cai e um “alô” é a senha para se entabular a conversa. A duração máxima é de três minutos. Mais tempo, mais ficha. Nada de celular supermicrocomputadores nos bolsos. O telefone fixo em casa era sinal de riqueza.
Do tempo que do papel de carta. Nas ruas já não existem mais as caixas metálicas amarelas, semelhantes a parentes do “E.T.”. Por ali, se enviavam notícias para outras partes do mundo. As trocas de cartas caíram em desuso diante dos e-mails. As caixinhas coletoras viraram seres do passado. Conexão imediata fez sucumbir o charmoso e literário, porém lerdo, processo anterior.
Outro papel, o moeda, caminha a passadas largas para se tornar obsoleto. O dinheiro de plástico e, mais recentemente, o queridinho Pix, o estão substituindo. Também feito de papel, o talão de cheque, hoje é símbolo do passado. Antes, era poderoso. O mesmo destino se fez com o velho crediário com suas notas promissórias e carnês de pagamento. O cartão de crédito o aposentou. O dinheiro deixa de ser palpável e se torna virtual.
E os discos de vinil, as fitas cassetes, os CDs.... A música tinha formatos redondos. Era negra, colorida e brilhante. Os primeiros LPs, de tamanho pouco prático, eram ornados em capas criativas, muitos eram verdadeiras obras de arte. Ouvir um disco exigia uma cerimônia. Pegar o encarte, retirar o disco protegido por um saquinho plástico, colocá-lo na posição na vitrola, vê-lo girar. A agulha mágica trazia a voz, os instrumentos. Já as fitas, como diria Chico César, com os seus olhos tristes a girar no gravador, era mais um engenho especial que permitia selecionar e gravar o repertório. A magia da captura da música de um disco, de uma rádio, do outro par de olhos de um K7. Já os CDs, mais modernosos, eram práticos no tamanho e na pureza do som, até se tornar, também, antigo, ultrapassado.
Lembranças... Como possuir ao lado da cama um rádio relógio com despertador musical. Do mesmo modo, aposentada pelo aparelho telefônico portátil foi a agenda telefônica. Os danadinhos dos telefones celulares oferecem esses préstimos e muito mais, como calculadora, rádio portátil, máquina fotográfica e filmadora com vários efeitos, programa de edição de texto e imagem, acesso à internet. Voltando a falar do dinheiro, eles fazem às vezes até de agência bancária.
A mente colhe fragmentos de um mundo inteiro que desapareceu. A manivela virou botão, se tornou tecla e sumiram porque os aparelhos já obedecem às ordens da voz humana. Até aonde isso vai? Apenas vai e vamos juntos. O mundo é um carro desenfreado. E a mente humana não para. E lá vamos nós, antes de ficarmos para trás.