É fim de tarde e o corrimão
Do tempo
Em espiral se alonga
O Céu se mancha
De laranja
E a memória navega
Pontos brilhantes
Vão acendendo
No tempo que era o Sol
Divago dolorido
E sinto a angústia das cores
Aos poucos esmaecendo
Sonho com os sonhos
Olho para traz e vejo uma estrada se apagando
Olho a frente e já vejo o fim do caminho
De que esperança
Hei de tirar as flores?
Talvez do chão que me espera
A saudade
Um cílio
Perdido
Raio de luz
Roubada
Do dia
A saudade
É um arco retesado
E logo desfeito
As cores
As palavras
Os amores
Nuvens brancas
Brancos lençóis
A balançar em varais
Saber que ir
É necessário
E nunca mais voltar
A prece
Sobre a cova
De quem ainda não morreu
O mar das coisas
Descansa sob
O ouro do sol
À noite as montanhas frias
Mostram seus dorsos
À prata da lua
E a luz da manhã
Aquece os corações
E seus cafés fumegantes
Os que não os tem
Congelam ou jejuam
Sem olhar o que se passa no Céu
Se o arco da promessa se ergue
Ajusta a paisagem à beleza
E os espíritos flutuam
Viva os que existem
E também as memórias
Postas como trilhas
Viva a cor
Que o sol
Já roubou
As casas
As injúrias
Os beijos
As mechas
Postas para segurar
O que ameaça ruir
E viva vir
Como ir
Sobre terra movediça
Desancar o entardecer
E a manhã e a noite
Como uma canção de Caetano:
"O canto de
Um povo
De um lugar"