Na mesa, dados, tabuleiros, perguntas, brindes e a formação de lembranças em jogos novos e antigos. A vida está presente em movimento de mãos, bocas e olhares nos cíclicos encontros. Numa caixinha, músicas se alternam, conectam e transportam mentes. Vozes e instrumentos ecoam versos e acordes de tempos atrás. A música está presente mesmo quando silenciosa, quase um murmúrio, uma oração, um apelo para que o tempo daquele instante se torne eterno.
É tudo uma grande engrenagem em que as coisas se complementam, são ingredientes de aproximação, anexação de experiências, sem invasões predatórias. Todos somos pequeninos grãos de poeira cósmica espalhados pela cidade. Na pequenez de cada um a possibilidade de sermos grandes. O tamanho, diminuto, gigante ou enorme miniatura, depende do desempenho diário do sorriso do coração.
O amor e a amizade contam na construção do subjetivo ser, que terá mais peso e dimensões, a depender da disposição de ser humano. A falta comportamental resultará proporcionalmente no encolhimento.
Com as cartas à mesa, os dados atirados sobre a superfície plantada, ou plana, se desvendam as sortes. E elas nem sempre significam a vitória física. Contudo, o alicerce é feito de escolhas.
Entre aprendizados e tropeços, experimentos e testemunhos, há crescimentos. Paralelo ao tamanho corpóreo, é fundamental erguer o que é essencial, o invisível aos olhos, para citar Antoine de Saint-Exupéry em seu “O Pequeno Príncipe”. Flor e espinho são poéticos, cada um do seu jeito.
E crescer tem relação com visão. Que fique claro que um cego muitas vezes tem maior capacidade de visualizar que muitos ditos normais. Ver o interior, entender o próximo e sim, desfrutar a Lua diurna que aguarda para dar bom dia sob um céu já claro e o Sol despejando quentura em pleno mês de junho abaixo dos trópicos, fazem parte do poder visionário.
Os caminhos, trilhados num tabuleiro, ou caminhados pelos quarteirões da cidade, requerem habilidade para serem percorridos. O tempo, as pedras de paralelepípedos, o traço no cartão, os números dos dados, os ponteiros marchantes do relógio, são meros coadjuvantes dos vivos da dimensão presente.
Os jogos são feitos para serem disputados, ganhos ou perdidos. Porém, a vida é que deve sempre ser vitoriosa, mesmo quando aparentemente está se apagando. E se preciso for, desenhar com traços trôpegos ou fazer uma mímica tosca, vale o esforço para ser entendido. A construção também está em toda parte, é feita de todo momento.