Conheci Tarcísio Pereira nos corredores da Universidade Federal da Paraíba, em meados dos anos 80. À época, eu estava fazendo mestrado em Letras, e Tarcísio era o livreiro do corredor que dá acesso à Praça da Alegria, para quem vem das bandas da Pedro II ou do Castelo Branco. Era Tarcísio Pereira e Sílvio Calaço, que, inspirado por um personagem de Chico Anysio, eu chamava de “Meireles”. Com ambos, aficionados da literatura, mantínhamos boas e bem-humoradas conversas – José Edilson Amorim, o saudoso Wellington Pereira e eu. Tarcísio e Sílvio nos abasteciam dos livros de que necessitávamos, não só os dos textos literários, mas os teóricos, os de linguística, filosofia, história, capitaneados por Josivaldo Gabriel, de cujas mãos comprei muitos livros da Série Bom Livro, da Editora Ática, que indicava para os meus alunos do Primeiro e de Segundo Grau.
Tarcísio se destacava pelo seu objetivo de ser escritor. Eu não acreditava que ele pudesse ser. Talvez, pela prepotência da mocidade, eu era moço – pobre moço! – e Tarcísio ainda mais moço; talvez por conviver com amigos escritores e conhecer a vida de alguns outros do Brasil e de fora, e tivesse a consciência de quanto é um mundo de mesquinharias e de vaidades fúteis, fechado, de difícil acesso para os que iniciam, sobretudo, não se encontrando nos grandes centros; talvez pelo fato de que a minha escolha sempre foi ser professor, não escritor. Não o desencorajava, mas não o desestimulava, que eu me lembre.
Tarcísio não deu a menor bola, como se diz, popularmente, para o que eu pensava e fez muito bem. Foi ser escritor, na vida, e o anjo que o guiou não era nada torto. De marcha batida e passo estugado, Tarcísio Pereira foi fazendo o seu caminho, foi derrubando as porteiras, foi se impondo e, então, aflorou o romancista, o teatrólogo, o diretor, o homem de cultura, o escritor premiado nacionalmente. Fez-se sozinho, sem a ajuda das panelinhas, erigindo um reconhecimento público que é todo mérito seu, todo de sua lavra, sem dever nada a ninguém. Tome-se como exemplo a sua candidatura à APL. Foi candidato único, não por não haver quem quisesse se candidatar, mas porque o seu nome afastou qualquer outra pretensão.
Tarcísio Pereira, nessa caminhada nada fácil, chegou à Academia Paraibana de Letras. Não será o ápice de sua trajetória. Vejo como mais um posto alcançado, avançando na batalha árdua de ganhar mais espaço, em um terreno perigoso, cujas armas letais são a maledicência e a inveja dos que nada fazem e se acham merecedores do sucesso.
É isto: Tarcísio Pereira tem uma trajetória de sucesso, sobretudo, se considerarmos que sucesso significa literalmente o andar, dar passos de baixo para cima, subir, enfim. Não foi fácil, pelo pouco que conheço da vida de Tarcísio Pereira, mas a conquista sempre supõe a dificuldade. Sem dificuldades e adversidades não crescemos. Tarcísio Pereira cresceu e ainda crescerá mais. Para a Academia Paraibana de Letras, trata-se de uma ótima aquisição, que nos honra pela sua caminhada e pelo estofo literário que carrega. Tarcísio não sabe, de nada desconfia, mas quem ganha não é ele, quem ganha é a Academia.
É, pois, com a emoção boa da alegria, que deve ser o cerne de toda confraria, que a Casa de Coriolano de Medeiros e, sobretudo, a Casa de Augusto dos Anjos, dá as boas-vindas ao confrade Tarcísio Pereira!