O ato de mentir se banalizou nas relações sociais, ele se enraizou de forma sedutora e perversa. Manifesta-se coercitivamente a fim de ...

Resistência contra a mentira

O ato de mentir se banalizou nas relações sociais, ele se enraizou de forma sedutora e perversa. Manifesta-se coercitivamente a fim de controlar a demência social e o pensamento alienado do cidadão. Isso produziu a falsidade normatizada entre os relacionamentos e insituições, especificamente no ambiente politico e religioso. Os danos causados da mentira destruíram a dignidade do desejar, sentir, pensar, agir, bem como eliminou o respeito às diferenças entre todos. Essas destruições potencializaram, pela cumplicidade, a reproduzir a falsidade. A força da massificação da farsa se sustenta no doentio prazer pela malignidade, que se tornou uma droga gerada pela sensualidade do poder econômico
Edrece Stansberry
para justificar o controle absoluto sobre a sociedade e ao engessamento do senso crítico, também age contra o bem-estar social ou contra à felicidade de todos.

Nos dias atuais, muitos não sabem viver com as verdades e nem identificá-las. Esse mal-estar gerou a cultura do fracasso, porque perderam as suas credibilidades. Diante disso, apenas alguns falam das proprias incertezas para si mesmos... Eles não encontram mais quem os acolhem e nem quem os escutem. Esse terror se dá por uma ideologia criminosa com o objetivo de manipular a perda do senso crítico de uma massa social com a finalidade de negar as suas injustiças, seus sofrimentos e de silenciar o grito do abandono da dignidade humana, bem como de legitimar os conflitos entre todos os cidadãos e as deseorganizações entre as institituições. Essas são algumas características da mentira que produzem o sofrimento psíquico e destroem a autonomia do cidadão e seu pertencimento na cultura. A mentira surge sob formas de discursos que sinalizam algumas políticas públicas direcionadas ao bem comum, geralemente se disfarça de justiça social, a fim de esconder a fome e a miséria humana. A violência social do mentir vem sendo banalizada pela sociedade. Ela impede o respeito entre os cidadãos e elimina os vínculos afetivos nos relacionamentos bem como de destruir o pensamento crítico, científico e inovador do ser humano.

Hannah Rodrigo
Recusar a perversidade do mentir só existirá se houver a resistência e a esperança por uma vida melhor. Para isso, manter a verdade é uma ação revolucionária para reconstruir a harmonia entre os bons e o diálogo entre os sadios. A verdade parece assustar a quem pudesse assim falar porque a punição culpabilizante de um denunciador o apavora e não faltam sanções sociais para aqueles que ousam dizer o que desejam, sentem e pensam. Ao contrário, a mentira se impõe como um código de conduta e se torna um acontecimento na comunicação social, trazendo por medo ou por alienação, a plena aceitação pelos indivíduos da falsa verdade da hipocrisia, do fingimento e da extorsão do outro. A força do estar escondido propicia a ampla difusão dessa brutal norma de convivência, mesmo porque internalizada - inconscientemente -
Uwe Conrad
por uns é admitida sob coação por outros ou cinicamente consentida por muitos que dela se aproveitam para sublimar seus transtornos psíquicos e as doenças mentais dos psicopatas e/ou dos perversos.

O poder de infiltração da mentira na vida dos cidadãos e em suas relações em sociedade, quando socialmente aceita, dá a permissão que um danifique a dignidade do outro sem culpa. Essa banalidade não exige a retratação pública por esconder a sua violência simbólica. Na mentira, a gratidão e a confiabilidade se perderam como expressão da reconstrução dos afetos entre os cidadãos. Muitas vezes é um bem material que vem substituir as formas de reparar os danos causados a alguém porque se paga monetariamente os prejuízos causados a outrem. A cada dia se perde a preocupação de identificar o que é mentira e verdade. Perdeu-se a identificação da origem da violência gerada pela mentira, mas seus efeitos são vividos por muitos que passam a sintomatizarem a perda da própria saúde mental e corporal. Esse mal-estar é internalizado às estruturas inconscientes dos cidadãos como se fosse próprio à sua agressividade. Essa péssima consciência repressora tornou-se uma forma de sobreviver diante das ameaças de um opressor. De forma a eliminar qualquer solidariedade humana, porque a desconfiança conduz às generalizações perversas, entre as quais: todos não são confiáveis.

Kaberekoara
Concluo esta coluna com o poema Resistência, do indígena potiguara Kaberekoara (Fernando Alves Iziquiel da Silva):

Quem sou?
Sou filho dos que vós matastes, O último dos que sepultastes, O dono da terra que roubastes, Aquele que traz sobre o dorso o nome Tupi. Com qual audácia perguntas? Como assim quem sou!? Sou eu, àquele que vós roubastes a liberdade, O canto, o grito e a resistência dos que matastes. Vivo vivendo naqueles que vivem em mim... Sou verdadeiro, sou guerreiro, sou o último dos Tupis. O que não teme a morte, Que não lamenta a sorte, Coisa que eu nunca tive. Sou guerreiro verdadeiro, Resistência sem recuo, Luto e grito: demarquem o que é meu! Ou melhor, devolvam-me! Como assim, quem sou!? Por acaso esquecestes que os Reis desta terra filhos tinham? Não assustes! Eu sou o herdeiro! Eu estou aqui, com minha coroa de pena, Meu báculo é meu arco, Minha força é a Jurema, Mas se quer saber meu nome, Eu digo: chamo-me resistência!


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