Mestre de Aristóteles e discípulo de Sócrates, o ateniense Platão (427-347 a.c.) é considerado o “pai do idealismo”, epíteto que ele mesmo atribuía a Parmênides de Eleia. Pertencia a uma das famílias mais nobres de Atenas. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas recebeu o apelido de Platão (“de ombros largos”).
Desenvolveu sua filosofia a partir dos ensinamentos de seu mestre Sócrates, o que pode ser observado sobremaneira nos chamados “diálogos socráticos”. O núcleo de seu pensamento é a chamada teoria das ideias ou das formas.
Fundou sua própria escola filosófica, a Academia, que foi uma das primeiras instituições permanentes de ensino superior do mundo ocidental, protótipo de todas as universidades. Foi muito influenciado pelo pré-socrático Pitágoras, para o qual tudo era número, ou seja, além do mundo confuso das aparências, haveria um mundo abstrato e harmonioso dos números.
A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por ele mesmo, Platão. São textos de uma força verbal tão grande que alguns atribuem que Sócrates não passaria de um personagem inventado por Platão! Seus escritos não são apenas obras de filosofia, mas fundamentos da cultura ocidental.
Dele nasceu a concepção de cristianismo moldada por Santo Agostinho, bem como a inspiração teórica necessária para o renascimento científico que se deu através de Copérnico, Galileu e Kepler. Também se atribui ao homem de ombros largos o desenvolvimento de conceitos ideais presentes na matemática e na física do século XX.
Ademais, em várias obras de história da filosofia e das ciências da linguagem, nota-se que o diálogo Crátilo, de Platão, deu início à filosofia da linguagem, a qual, em nossa era contemporânea, ganhou força com o pensamento de Richard Rorty, Sapir e Whorf, Saussure, Wittgenstein, Chomsky e outros. Há vários temas que surgem na sondagem platônica neste terreno: a oposição entre linguagem e conhecimento; a exegese da linguagem como fonte de erro; a problemática da convencionalidade do signo (contraste entre posições naturalistas e convencionalistas); a distinção entre o verdadeiro e falso dentro do discurso; a crítica à retórica, principalmente no diálogo Górgias, onde o papel dos filósofos sofistas é duramente criticado.
Os textos de Platão também são fundamentais para o estudo da epistemologia e, sobretudo, da ética, como se vê em Mênon, Fédon, O Banquete, A República (em que é delineada a indefectível “Alegoria da caverna”). Não é à toa que o conhecimento, dentro da perspectiva platônica, assume um caráter essencialmente ético-político. Sua famosa teoria das ideias ou das formas pode ser considerada o início da metafísica clássica. Pelo visto, não se pode fugir de Platão.
O pensamento de Platão é tão vasto e importante que deu origem a uma famosa expressão do filósofo e matemático britânico Arthur North Whitehead: “toda a filosofia ocidental são notas de rodapé a Platão.” Como outros pensadores, enfrentou a problemática da permanência e da mudança, da unidade e da multiplicidade, ou seja, teve que tomar partido no velho embate entre Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eleia.
Sua teoria das ideias representa a tentativa de conciliar as duas grandes tendências anteriores da filosofia grega: a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito. Trabalhou de forma genial esses conceitos baseados no dualismo entre o mundo sensível e o mundo inteligível em seu famigerado “mito da caverna”, que conduziria o homem do mundo das aparências ao mundo da realidade, soberba metáfora do conhecimento humano.
Influenciado pelo modelo da severa sociedade espartana, em sua obra A República, imaginou uma sociedade ideal, governada por reis-filósofos, que representa uma concepção política aristocrática (do grego “aristoi” = melhores, e “cracia” = poder), isto é, a grande massa seria incapaz de dirigir a cidade, e o poder seria exercido pelos “melhores”, que formariam uma “elite” (do latim “eligere” = escolhido). Na verdade, trata-se de uma “aristocracia do espírito”, que não está baseada no poder econômico.
Os questionamentos platônicos são essenciais para a filosofia e o pensamento humano. Envolvem a questão da possiblidade de conhecimento e de seu objeto; o método a ser empregado; o uso dos sentidos e da razão; o significado da virtude, da democracia, o valor da arte etc.
Para Platão, o filósofo seria um mediador entre o sábio e o ignorante. Essa é a missão político-pedagógica do filósofo. É exatamente por isso que o prisioneiro, após se libertar do mundo das sombras e de escuridão da caverna, retorna a ela para tentar convencer seus outrora companheiros da existência de uma realidade superior, baseada no conhecimento. Sua famosa frase “A filosofia começa com a perplexidade” traduz o homem como ser racional em sua mais pura essência. Sem sombra de dúvida (nem mesmo dentro da caverna!), Platão é um dos nossos pais.