Medo de ficar só. É possível? Com plantas, livros, mares e galáxias, dentro e fora, micro e macro. Vento que rodopia no canto da sonata, o doce pingar do céu, as mornas manhãs, a calma da noite. Sossego, sim. Sozinho, nunca.
Grande em muitos é a solidão. Tão maior quanto o vazio deixado, cultivado, não cultivado. Só colhe quem semeia. Tempo perdido não volta, reencarna. Mas, há sempre esperança no refletir.
Grande em muitos é a solidão. Tão maior quanto o vazio deixado, cultivado, não cultivado. Só colhe quem semeia. Tempo perdido não volta, reencarna. Mas, há sempre esperança no refletir.
Cautela com a fantasia que a rotina ilude, mascara o tempo, estanca e pára. Presente e futuro. A tarde é morta. Sem chance. Em arado deserto, não adubado e plantado, nada brota. E a solidão floresce. Viçosamente cruel.
Tantos foram os recados, as lições. Os ouvidos moucos. De cego que não quis ver. E o Sol transpondo nuvens. Acenos no orvalho, no marulho, no luar. Tudo fluindo, e escapando. Instantes idos, não notados.
Quem plantou, colherá. Jardim sem erva, sem praga, só flor. E amor. Amor de dentro, florindo, sorrindo. Sorrindo à vida, que não se foi com as horas. Amor fértil, grávido, rico. Sem solidão. Lembranças com sabedoria aprendida, lida, escutada, apreendida. Em boa companhia. Assim se constrói, passo a passo, tempo a tempo, o mundo de dentro. O de fora também. Pelos outros. O eu é seu, é meu, é nosso. Mas só meu será, um dia, agora ou depois. Reconcilia-te enquanto estás a caminho, antes da curva sem volta.
ALCR
Vejo a boadrasta Alaurinda plantando, florindo, semeando, colhendo. Sorvendo o íntimo amoroso bondosamente lapidado, que ora esparge no conforto gratificado, da fé consolidada, amor de alma, que nunca morre. Que dirá de alma gêmea… Que partiu e não foi. Nem vai.
Vejo-a no sossego da consciência, da paz que só o bem feito promove e perpetua. No frescor de uma mente que se agasalha na preciosidade usufruída sob o éden incensado das melhores recordações. Do bom proveito vivido. Arado e hortado, como hoje brotam as rosas que florescem encorpadas no seu “Jardim da Gratidão”, adubado à meiguice e sintonia com o mundo da poesia. Vejo-a em companhia dos livros que renascem, que sorriem eternamente, no amor impregnado muito além da solidão.