Foi uma noite como poucas a que vi ontem no ânimo emocional dos oradores e dos que prestigiaram a posse de Tarcísio Pereira na Academia.
Foi o primeiro dueto discursivo a que assisti mais do que ouvi, ajudado pela vibração de algumas palavras chaves que legendavam o rumo dos discursos. Tarcísio aplaudido a cada página (e não foram poucas), Hildeberto Barbosa vibrando a cada achado surgido ou rebentado dos muitos talentos do escritor, ficcionista e de franco e reconhecido domínio nas artes dramáticas.
Foi o primeiro dueto discursivo a que assisti mais do que ouvi, ajudado pela vibração de algumas palavras chaves que legendavam o rumo dos discursos. Tarcísio aplaudido a cada página (e não foram poucas), Hildeberto Barbosa vibrando a cada achado surgido ou rebentado dos muitos talentos do escritor, ficcionista e de franco e reconhecido domínio nas artes dramáticas.
Tocou-me logo de início a saudação do filho de Pombal aos que, familiares ou conterrâneos, vieram representar sua terra na noite solene.
Orgulhava-se ele, numa entrevista às vésperas da posse, de ser o primeiro pombalense a ingressar na Academia Paraibana. Mas, de Pombal, não foi o primeiro a merecer, ainda que possa, no seu tempo, bem representá-los. Do Pombal de Arruda Câmara e de Borges da Fonseca, revolucionários da liberdade, mal vistos não só pelo Império, como pelos olhos raivosos do imperador do seu tempo. O Pombal de Wilson Seixas, convidado por Afonso Pereira a ingressar na Academia, mas pedindo tempo para merecer, para completar a sua obra, quase toda dedicada ao torrão natal, ao “Velho Arraial das Piranhas”, aos “Pordeus do Rio do Peixe”, além de “Viagem através da Província da Paraíba” e de um título em que se saiu extenuado dedicado à Santa Casa de Misericórdia e sua Igreja, no Ponto de Cem Réis.
Representa bem e legitimamente a sua terra esse escritor e teatrólogo que, se foi buscar na magia autóctone dos prosadores de cordel e na dos narradores hispano-americanos a sua liberdade de tema e de estilo, não fugiu à sua índole de expressão e tenacidade.
Mas Tarcísio não é só representação, seja como escritor e autor dramático. Já não ouço bem e os aparelhos pouco ajudam, mas ainda me sobra uma boa visão. Vi seus olhos minarem a pureza do sertanejo comovido pelo reconhecimento do auditório e dos confrades que o receberam unanimemente. Chorou e assoou-se.
Foi noite feliz de Academia.
Antes que varram a casa e se dissipem os vapores que o frio da noite chuvosa pôde segurar, estarei, nesta segunda-feira, lançando nova coletânea de crônicas cujo título não manga das Notas do meu lugar, editado em 1978. Reúne um feixe das antigas, retiradas de livros que não foram reeditados (Notas do meu lugar, Um sítio que anda comigo e Filipeia e outras saudades) e novas crônicas da velhice. Novas pela data, mas com os olhos no tempo, que é meu chão. Daí o título: Com os olhos no chão. Socorrendo-se pretensiosamente de epígrafe furtada da seara de Fernando Pessoa:
“A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou.
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.”
(Originalmente publicado no jornal A União)