Sou um pintor de luas tortas. Tombadas sobre a terra frágil.
Ou seja, trato da poesia fragmentada de nosso tempo, dos seus andrajos sustentando uma terra inóspita para a beleza.
Meu poema não é passivo, não enleva a alma ao paraíso, ele lambuza o leitor com a realidade, com a angústia do ser consciente.
O pasto é para todos, por isto cuido do arado, planto, colho, engulo, mas, ao acaso, rumino versos que são a minha fome perseguida.
Aquela palavra-frase que me ignora as súplicas e me arrebata ao seu bel prazer.
Chamo de estalo da palavra este açoite aguardado da musa. Mas luas tortas carecem de aplicabilidade.
Daí ser ignorado tal arquiteto e seu anacronismo.
A lua suspensa e seu telescópio já não dizem nada.
Os irmãos Lumiére não se reinvetam na poesia.
O espaço-tempo não tem fragrância, ele é um galope doido de imagens e informações.
Sei que o poeta não é um ser prático, mas é rico em praticâncias e desassossego.
E assim acordei sendo. Esta é minha última pele. Visto o que sobra das luas que picoto e remendo em minha vida.
Quem sabe aprenda a amanhecer em algum olhar. O que me diz leitor?
(Introdução ao livro Tratado da última pele a ser lançado em breve pelo autor)