Há coisas que só acontecem em viagens. Poucos dias, antes de viajar a Barcelona, encontrei, durante um evento na Academia Paraibana de Letras, com o fotógrafo João Lobo, que me falou da intensa turnê que estava fazendo, nas últimas semanas, para participar de exposições e debates sobre sua obra. Lobo é o nosso fotógrafo celebridade, que mora em Lisboa e faz sucesso pelo mundo com sua obra genial.
Bem, conversamos algumas trivialidades, falamos de sua ida a Nova Iorque, Buenos Aires, de minha palestra em Barcelona, essas coisas. E eu saí imaginando e tentando entender a sua curiosa fobia a pentes, com os cabelos sempre caprichosamente desgrenhados que ele, vez em quando, procura desarrumar ainda mais, com as mãos. Certamente uma marca.
Dias depois, ao deixar o Instituto Guimarães Rosa, em Barcelona, caminhando na direção do Bairro Gótico, eis que me deparo com... Lobo. Estava ali numa esquina, em conversa animada, e, como sempre, desarrumando mais o cabelo com as mãos.
Surpreso, pois imaginava que ele estivesse em Nova Iorque, chamei: “Ei, Lobo!” Insisti. De novo, chamei. Então o tal sujeito me olhou com uma cara perigosamente lupina, e só, então, percebi: não era o nosso João Lobo.
Bem, no retorno a João Pessoa eis que, casualmente, encontro com o Lobo paraibano num restaurante. Entre uma conversa e outra, não pude resistir de contar o ocorrido em Barcelona. “Eu imaginei que fosse você. Era a sua cara! Até o jeito de arrumar o cabelo despenteado...”
Ele ri, e diz que não poderia ser ele, porque se encontrava no périplo entre Buenos Aires e Nova Iorque. Mas, confidenciou: “Já me aconteceu algo engraçado, em Barcelona, por conta desse meu jeito, acho.”
Fiquei curioso, e ele contou: “Bem, um sujeito me abordou nas Ramblas e me ofereceu heroína, tu acreditas, assim, na lata?” Eu até não estranhei muito, porque também já passei por algo similar em Lisboa, à porta de uma casa de fados: “Já aconteceu comigo. Mas, e aí, o que você disse?”
Lobo: “Eu disse, ei cara, eu não curto, não!” Daí, o cara insistiu: “Não curte, é?” E Lobo repetiu: “Não, cara, eu não curto droga!” Então, o sujeito indagou rindo com sarcasmo: “Com essa cara?”