Enquanto dizem alguns que o tempo passa, digo eu, no meu achismo com palavras, que faz tempo o tempo deixou de existir. Tenho em mim todas as idades. Às vezes, inauguro uma idade nova como se mudasse de série da escola. Vou me multiplicando pelo tempo, a cada dia outra.
Já acordei mãe e fui me refazendo nos filhos. Da matriz do meu corpo fui abrigando e alimentando em vida seres espirituais se fazendo em instrumento orgânico. Já acordei avó e fui me fazendo criança, entre os rumos da sabedoria achando espaços divertidos para brincar de futuro, pôr no colo divinos Mestres, com mensagens novas e olhos brilhantes de vida.
Já acordei mãe e fui me refazendo nos filhos. Da matriz do meu corpo fui abrigando e alimentando em vida seres espirituais se fazendo em instrumento orgânico. Já acordei avó e fui me fazendo criança, entre os rumos da sabedoria achando espaços divertidos para brincar de futuro, pôr no colo divinos Mestres, com mensagens novas e olhos brilhantes de vida.
Quando penso em tudo que vivi, o que mais conta, o marco zero, sempre foi o grito de libertação. Primeiro, quando nasci demorei a chorar, em absoluta letargia. Até hoje adoro boiar em águas mornas e o silêncio me embriaga.
Aos poucos não foi o tempo que passou por mim, fui eu me tornando em tempo. Tão minúscula que é o que me torna humana. Tão singular que me torno plural. Tão vida que creio num absoluto Deus. Tão Amor que sou Cristo, Cristina, uma Maria da vez. Tão nada que sou do tamanho de uma estrela, nada também, igual a mim.
Mergulho em todos os tempos, surpreendo-me em universos simples de amor delicado em intrincados e desafiadores complexos intelectuais com que leio outras vidas, em livros, vídeos, cara a cara, cartas sobre a mesa.
Administro este corpo que me veste com o que tenho ao meu alcance, sinto que evoluí para preservar a carne como abrigo à espiritualidade além de qualquer dogma, juízo de valor: anos, danos, dinheiro contado, métrica imperfeita de perdas e ganhos.
Vivo um processo cósmico profundo de transição, e acender a vela de aniversário significa dar vida à luz, ampliar a clareza do olhar. O que importa é que com maestria aprendi a dar valor à poesia que me invade e ressignifica o verbo amar. Verbos, palavras de ordem em que a prosa vira verso, a consciência de ser, a trilha de ir, o verbo sempre novo renascer do magnífico olhar. Pulsar.
Amo o que faço. Construí um patrimônio subjetivo que corre solto entre os que têm a necessidade de ouvir e sentir os cochichos da alma, a voz que modula os tempos. Eu Sou. Aceito, amo e sou grata.
Tenho sonhos em que incluo os que me acompanham, como o que é feito da força conjunta para realizar o Projeto Livro de Rua na cidade de Tatuí: 24 anos depois da primeira edição! — reflexo de 41 anos dedicados à literatura. Sim, não existe tempo, apenas marcadores da poesia que se revela e que quero eternizá-la com a leveza com que por ela sou abençoada.