Para Teca, Bebé e Claude No aeroporto de Marseille pensei em encontrar Gerard Depardieu. Assisti à série com o nome dessa cidade, ch...

Do Tâmisa ao Tejo

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Para Teca, Bebé e Claude

No aeroporto de Marseille pensei em encontrar Gerard Depardieu. Assisti à série com o nome dessa cidade, cheia de intrigas e máfias. E adoraria ter conhecido esse lugar. Mas ao invés, voamos tranquilamente para London London, com destino certo: Cardiff e Penarth, um istmo ligado à Baía da capital do País de Gales, onde mora a minha irmã, Teca. A primeira vez que as quatro irmãs se juntam naquela cozinha para saborear seus quitutes e do seu marido Anthony: Paella, Sunday lunch com porco cozido com erva doce, bolo de amêndoa, ou a famosa sobremesa Pavlov, ou ainda, um típico Cream Tea enquanto o Rei Charles era coroado. Nos intervalos, os esquilos (Tico e Teco?) pinotavam no quintal/jardim, por entre as palmeiras tropicais e uma calçada com cerâmicas de ondas – numa alusão à Copacabana.

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Ana Adelaide, Bebé e Claude Peixoto em Cardiff / Penarth (País de Gales
Acervo da autora / Richard Szwejkowski
A sua rua tem muitas consoantes no endereço e árvores floridas numa primavera gelada. Pelas esquinas, os penhascos, o píer de como me sentir A Mulher do Tenente Francês, as gaivotas, e os verdes intensos ou mais claros dos parques ao redor, ou os do museu Saint Fagans, sítio a céu aberto e toda a vida dos galeses contada em ruinhas, casinhas, castelos, jardins, moinho, igreja, desde os idos dos 500 anos atrás. O verde se sobrepõe, com tulipas negras salpicando o caminho, por entre castelos, arcos, thatched houses, e campos a perder de vista.

Em outro dia, almoçamos na Forage Farm Shop and Kitchen, lugar de Comida Conforto e de Poesia; um ponto de venda e restaurante com comidas orgânicas, entrepostos, sem atravessadores, e iguarias da região. Em quase duas semanas de irmandade, transitando na cozinha por entre doses de gin, vinho tinto, chá ou as frutas vermelhas da região, conversávamos sobre a vida de cada uma, nossas identificações, diferenças, divergências e aconchegos. Como é bom ter irmãs! No centro de Cardiff, o castelo imponente, a Wales Millennium Center que estampava na língua galesa: In These Stones Horizons Awen Sing, numa alusão à música In these stones horizon sings (Nessas pedras o horizonte canta), peça para orquestra e coro, do compositor Karl Jerkins. Comprei colares com símbolos celtas para os filhos, e os meus olhos nos cartazes de Roald Dahl, e a sua Fábrica de Chocolate. Uma roda gigante, um prédio The Senedd, dos premiados arquitetos Richard Rogers, Ivan Harbour, inaugurado pela Rainha Elizabeth II em 2006, e a vista de uma estátua que apontava para lá... eu me perdia.

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Centro de Cardiff / Wales Millennium Center (País de Gales)
Acervo da autora / Charlie Seaman
Um passeio pela região de Cotswolds (Já na Inglaterra, à distância de uma ponte). A mais linda! A Provence, a Toscana Inglesa, medieval. Minha irmã Claude, na sua primeira viagem ao continente europeu, não cabia de alegria com aquela paisagem dos campos de canola e suas flores amarelinhas; os prédios do século XIII e a Vila Bibury onde morou o escritor Tolkien, e por onde se inspirou para escrever Hobbit (O Senhor dos Anéis). Encontrei um cisne no meio do caminho. Maravilhada. Ainda rodamos por lugarejos de cinema: Bourton-On-The-Water; Lower Slauhter; Burford e o Garden Co para o almoço – um espaço gigante com tudo de imenso para os olhos, design e gastronomia. Quase não saímos de lá... Chovia. Na volta, um pit stop na querida Oxford, séculos de história, estudantes, bicicletas, a Carta Magna, a Radclife Camera, a Bodleian Library, Trinity and Christ Colleges – maravilhada com os jardins, flores, trepadeiras e o verde claro dos gramados dos filmes. Um dos pontos altos? O Pitt Rivers Museum, que exibe as coleções arqueológicas e antropológicas, por onde, de olhos arregalados, ficamos zonza com o mergulho na paleontologia e nos dinossauros.

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Bourton-On-The-Water (CotsWolds) / Pitt Rivers Museum (Oxford)
Acervo da autora / Liz Henry
Depois desse banho pela história e natureza, chegamos em London London, sempre cantarolando Caetano. Sábado em Notting Hilll/Portobelo Road, por entre flores, anéis, e uma certa livraria do filme icônico do mesmo nome. Domingo, passeio pelo Tâmisa, e os highlights do Palácio da Rainha/Rei, agora coroados. O som típico das flautas escocesas e o Mall todo decorado com bandeiras. O Saint James Park e a delícia de um dia de sol cheio de gente do mundo todo. As badaladas do Big Ben, agora completamente restaurado; a Catedral de Westminster, a Torre de Londres e as suas histórias de Henrique VIII e Ana Bolena. Um Gin num pub, na companhia querida da vizinha de infância Silvia Helena, para finalmente subirmos no prédio icônico The Fenchurch Building (The Walkie-Talkie), onde do Sky Gardens, no topo, pudemos assistir ao lusco fusco do pôr do sol de uma cidade gigante que findava o dia. Florestas, luzes, vidraças, e London London aos nossos pés. Por outros dias, souvenirs em Covent Garden, um creme de hortelã e bergamota para as mãos; cartões de arte da Tate Modern (meu museu favorito), e um jantar no Soho. Um brinde em Ottolenghi (um chef Britânico nascido em Israel, nos apresentado por Teca, e que já aprendi a admirar, e a fazer a pasta com beringelas), uma camiseta do artista plástico Bansky, e a vista da imensidão do rio Tâmisa.

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Jardins da Abadia de Westminster / Big-Ben (Londres) / Claude, Teca, Ana Adelaide e Bebé Peixoto
Acervo da autora
Findamos 30 dias de viagem em Lisboa, por onde deu tempo de beijar Fernando Pessoa (em bronze, é verdade); admirar o Tejo e os seus barquinhos na outra margem do rio...; um prato no Mercado da Ribeira, outro bacalhau no Fartas Brutos, olhando para a mesa onde sentava Saramago; um bolinho de bacalhau com queijo da Serra da Estrela, com vinho do Porto da Madeira, no meio na Rua do Comércio e os seus azulejos para turistas – quem resiste?; umas pernas cansadas de subir o Bairro Alto para contemplar Lisboa do Mirador Pedro de Alcântara; e o cansar dos olhos de contemplar os jacarandás e as suas floras lilases. Despedidas, mas não sem antes comprar sardinhas no supermercado para forrar a mala que estufava de recuerdos de uma feliz viajante.

Mas viajar é regressar, já disse o poeta. E eis-me de volta aos meus cantos, com as minhas portas azuis, agora transformadas em quadro e a me lembrar dos anos e das viagens tantas que, confesso que vivi!


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