E assim se passaram dez anos desde a sua partida Juca. Quanta saudade! E o que é o tempo? Parece que foi ontem, mas ao mesmo tempo, ...

Dez anos - Um diário da ausência

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E assim se passaram dez anos desde a sua partida Juca. Quanta saudade! E o que é o tempo? Parece que foi ontem, mas ao mesmo tempo, uma fenda se abriu no meu coração e na minha vida, e quanta coisa aconteceu. No mundo também. Você não iria acreditar! Na eleição de um governo negacionista e que nos deixou estarrecida com o que fez, e não fez. A re-eleição de Lula, por mais que tudo parecesse improvável. E recuperando a democracia aos poucos, com todas as dificuldades. Uma neta que chegou, Luísa, e que já faz quatro anos de sapequice e fofura. Daniel foi embora para São Paulo, e lá está com Bruna desbravando o mundo do trabalho e não só. Lucas e Nathalia abriram um Café – o Bricktops, que de grão em grão vão se firmando no mercado. E tivemos uma pandemia. Essa você nem dos céus conseguiria imaginar.

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Café Bricktops, no Manaíra (J. Pessoa) @bricktopscoffee
Perdemos tanta gente querida nesses dez anos, mas de pertinho, perdemos mamãe, a sua, Murilo, seu querido irmão, Fred Pitanga, e tantos amigos. Nem sei como sobrevivi, pois também tive a saúde debilidade, um câncer de mama, aquele de quem me tremia só de imaginar. Mas com ele, também tive que enfrentar os meus mais profundos medos. Mas também tive felicidades. Meus livros. Viagens inesquecíveis, mudança de casa, afetos queridos. E perdemos Rita Lee, por quem eu mais choro ultimamente.

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Fred Pitanga, Tezinha Rique, Ana Adelaide e Terezinha Peixoto
@anaadelaide
Quando o jornalista Gilberto Dimenstein faleceu, vítima de um câncer, eu escrevi na minha crônica (quando dos 7 anos que você se foi), uma referência ao seu amor por sua mulher, Ana. Agora também faço uso do texto da sua mulher, para construir o meu. Só depois vi a repetição. Achei uma sincronicidade interessante.

Dia 5 de junho, dez anos que você partiu sem nunca ter nos deixado. Dia de celebrar sua vida plena e rica. Compartilho aqui, como o fez a minha xará, alguns itens da lista que chamei de “O que não quero esquecer”. Pequenas coisas que o faziam tão especial e transbordam o meu coração das melhores saudades.

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Ana Adelaide e Juca Jardelino
@anaadelaide
Você gostava de tomar banho demorado com sabonete perfumado.

Quando recebia uma notícia muito boa, compartilhava comigo sorrateiramente, não sei antes, me dá sustos. Sua personalidade da ironia.

Amava ler jornais. Todos. E eu que já gostava, virei viciada. E quando leio, no café da manhã, na minha mesa iluminada pelo sol da manhã, muito me lembro de você. E o que dirias desse novo espaço. E dessas notícias.

Lambias os beiços com cordeiro, batatas coradas e brócolis. E o café. Ah o café, insubstituível.

Amava filme policial. Ou drama daqueles punks. No cinema saímos mudos de “Amor”, nosso último filme. Profético. Também amava ir ao cinema comigo. Um programa a dois. Depois sempre tinha uma cervejinha gelada para aquecer os nossos beijos.

Abandonou o cigarro seis anos antes do pulmão reclamar. Do dia para a noite. Ah! como admirei a sua obstinação.

Como Gilberto, também era distraído e perdia tudo. Óculos, chaves, celular. E, ao contrário dele, não soube criar estratégias. Continuou perdendo…

Amava massagem e alisados. E eu mais ainda. Travei para não sentir a falta que doía no meu corpo todo. Agora tenho uma massagista toda minha; um pouquinho do céu para mim. Sem você!

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Ana Adelaide Peixoto e Juca Jardelino
@anaadelaide
Nunca parou de trabalhar. O trabalho era o seu lazer. A não ser para ler bons livros ou resenhar política com os amigos. Não entendia férias. Mas gostava de um bom mergulho em Camboinha, com um caranguejo depois numa palhoça.

Ainda hoje ouço a sua voz me chamando de D. Ana, que eu nem gostava muito (por conta das implicações de autoridade), mas que acabei cedendo ao tom amoroso e cúmplice; ou amoreco, que sempre vinha junto com um alôôô demorado, com a sua voz rouca e baixa. Sexy.

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Juca Jardelino e Ana Adelaide
@anaadelaide
Sinto muita falta da intimidade. Do silêncio cúmplice. Esse que só os casais longevos conseguem. Uma dádiva. Mas sinto falta também do estado amoroso. Mulheres viúvas nessa idade da loba (quando te perdi), tem sim dificuldades de se reconectarem com o amor. A sociedade e os homens não as veem. Somos invisíveis diante da busca da juventude eterna. Muito me emociono quando vejo casais maduros de mãos dadas. Ah o desejo!

Há pouco tempo se foi o outro Juca, o Pontes. Fiquei muito triste e de novo, com sentimentos de descrédito. Espero que se houver mistérios maiores, que se encontrem pelas luzes desse mundão grande do universo.

Não sei se estás feliz, pois gostavas muito da vida. Mas peço todos os dias pela sua paz. Eu? Sim, sou solitária, mas acho que sou feliz. Tenho os meus momentos de tudo: tristeza, solidão, desamparo, aceitação, alegria, gratidão, completude, mas o que mais sinto mesmo é alegria de ter vivido ao seu lado por 25 anos de amor e com todos os seus abismos e complexidades. Coisa para poucos.

Mando beijos. Daqueles que só a gente dava.

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