A sinonímia é a propriedade que têm dois ou mais termos, expressões ou palavras reais e instrumentos gramaticais de se empregarem um pelo outro sem prejuízo do sentido, dependendo do contexto. Por essa definição entende-se que existem dois tipos de sinonímia: a das palavras reais e a dos instrumentos gramaticais.
A sinonímia gramatical é a que se verifica com prefixos, sufixos, raízes e conjunções, como, por exemplo, in- e des- (que significam negação: inabitado/desabitado), -eiro e –ário (que significam estado, profissão: costureiro/funcionário), digit(i) e datilo, que significam dedo (digitação/datiloscopia), pois e porque que relacionam causa e efeito (choveu, pois a rua está molhada/porque a rua está molhada).
As gramáticas, contudo, estudam a sinonímia lexical, isto é, a de termos ou palavras reais, como erguer/levantar, chato/enfadonho, causa/motivo.
O problema maior da sinonímia está em acreditar que o emprego de um termo por outro se processa nos dois sentidos. Em muitos casos, é possível substituir um termo pelo seu equivalente sinonímico sem alteração semântica, como nos pares seguintes: notar/observar, despido/nu, prerrogativa/privilégio. Mas a sinonímia nem sempre é simétrica, recíproca ou bitransitiva (bitransitivo aqui entendido como “o que transita em duas vias”). O sentido do texto é que vai permitir a substituição de um termo por outro sem alteração semântica. A sinonímia deve ser estudada como contextual. Assim, podemos dizer que, na frase seguinte, “mãe” é sinônimo de “causa”: “A ociosidade é a mãe de todos os vícios.” Mas não podemos dizer que a invasão da Polônia foi a mãe da II Guerra Mundial. É importante que se leve em conta a metáfora. Em “um monstro de ser humano”, monstro é sinônimo de horror; em “um monstro de inteligência”, monstro é sinônimo de colosso! No primeiro caso, é uma ofensa (ser humano cruel); no segundo, um elogio (pessoa inteligentíssima).
Pássaro é uma das treze ordens de aves. Podemos dizer que o gavião e o pavão são aves, mas não podemos dizer que são pássaros, porque o gavião é rapineiro, e o pavão é galináceo. Ave, portanto, é um termo de significação mais abrangente que inclui desde as corredoras (como a ema e o avestruz) aos palmípedes (como patos e gansos). Quando uma palavra tem um sentido genérico, de menor especificidade, que abrange e inclui o significado de várias outras, dizemos que essa palavra é um hiperônimo. Flor, por exemplo, é um hiperônimo que inclui rosa, violeta, jasmim, margarida, etc. Por sua vez, rosa é hipônimo de flor. Veículo é um hiperônimo que inclui carro, bicicleta, moto, ônibus, etc. Por sua vez, velocípede é um hipônimo em relação a veículo. Por causa do conceito de hiperônimo/hipônimo, fica sem sentido definir pronome como substituto de nome, já que o hiperônimo substitui nome sem ser pronome: “O automóvel capotou na curva. A perícia verificou que o veículo estava com os pneus carecas.” A palavra veículo substitui automóvel e não é pronome. E há pronomes que não substituem nome algum, como o inglês “it”, o alemão “es “ e o francês “il” na frase equivalente a “chove”: it rains, es regnet, il pleut.
O hiperônimo, grosso modo, equivale à ideia de extensão, em lógica; e o hipônimo, à ideia de compreensão. Animal, por exemplo, significa: “ser que vive”, “que sente” e “que se move”, ideia que se estende a todo ser que vive, que sente e que se move, desde a pulga ou a minhoca ao elefante ou à baleia. Homem tem maior compreensão que animal, porque inclui “racional” em seu significado, mas tem menor extensão porque limita a ideia de animal a um único tipo de ser que vive, que sente e que se move. Assim, homem é hipônimo em relação a animal, porque tem uma extensão menor. O hiperônimo, assim como a extensão, inclui um universo maior em seu significado. Assim, assento oferece uma ideia ampla (extensão) de objetos que inclui cadeira, poltrona, banco, sofá, etc. Sofá, por sua vez, oferece uma ideia restrita (compreensão) de assento. Quanto maior a extensão, menor a compreensão, isto é, quanto mais genérico for um termo, menos preciso ele é.
O oposto a sinônimo é antônimo, que também é normalmente contextual. Recorde-se que nem sempre um antônimo tradicional se pode opor ao seu par: seco se opõe a molhado, mas vinho seco não se opõe a vinho molhado, que é expressão inexistente. Da mesma forma, dias úteis não se opõe a dias inúteis, vinho verde não se opõe a vinho maduro, crime organizado não se opõe a crime desorganizado, arraia-miúda não se opõe a arraia-graúda, que não existe, assim como alta-roda (alta sociedade) não se opõe a baixa-roda, que também não existe.
Curiosamente, há antônimos consagrados indevidamente, como verdade/mentira. Verdade é um problema lógico; mentira é um problema moral. Só pode mentir quem conhece a verdade, mas prefere sonegá-la. Já erro (problema lógico ou paralógico) é que seria o verdadeiro antônimo de verdade, já que a pessoa que erra desconhece a verdade. Um erro dito por alguém pode levar o ouvinte a crer que esse alguém minta, já que o erro é a não coincidência da expressão com o objeto, exatamente como a mentira, que também é a não coincidência da expressão com o objeto. A diferença é que, no erro, a expressão coincide com o pensamento de quem se expressa, enquanto que, na mentira, o pensamento contraria a expressão do falante. Como não podemos saber o que está pensando a pessoa que fala, dizemos, para não agredir, que ela faltou à verdade. Faltar à verdade é sinônimo tanto de errar quanto de mentir, porque em ambos os casos a verdade faleceu. Mas a expressão faltar à verdade não ofende e traduz adequadamente a descrença ou a ideia de quem ouve.